sábado, 3 de setembro de 2011

Um Olhar sobre...Cabo Verde

Cabo Verde - Africa
É um país com um ritmo muito próprio.

Lá não há pressa para nada!

Foram estas as palavras de uma amiga que chegou esta semana de  viagem de Cabo Verde. 

Eu estava ávida para saber as novidades, ela estivera durante um mês a viajar pelas  Ilhas do Arquipélago de Cabo Verde.  

A imagem que eu tenho deste país é idílica, consequência das belas fotografias das revistas das agências de viagem, que publicitam o turismo naquelas paragens como tendo um excelente  clima, muito sol e muita praia!
Sabes,  dizia-me ela, a electricidade numa das ilhas, falta quatro a cinco horas por dia, como pode, assim, este país, evoluir?

O abastecimento de comida, também, é escasso. As poucas mercearias que existem na ilha, são espaços que nos transportam para um tempo longínquo que já não temos memória em Portugal.
Estes espaços de comercialização de alimentos remetem-nos para as descrições  que faziam os nossos pais e os nossos avós quando éramos crianças, sobre as mercearias que existiam nos anos cinquenta e sessenta nas aldeias do interior de Portugal.
Imagina, tu, o que é querer  comprar um pedaço de carne e não haver! Para te dar um exemplo, houve um dia em que fui a uma mercearia local e perguntei onde podia encontrar carne. O homem que estava atrás de um balcão de madeira apontou-me para umas arcas frigoríficas num dos cantos do estabelecimento.

Quando abri a arca congeladora,  o mau cheiro que saiu de dentro, retirou-me toda a vontade de confeccionar o que quer que fosse.

Decidi, então, comprar arroz para acompanhar uns enlatados, qual a “surpresa” quando cheguei a casa,  verificar que para além da data de validade estar expirada, o arroz, também, tinha  "bicho" (gorgulho).

Não admira que a população local seja magra de constituição. Palmilham todos os locais da ilha a pé, as estradas são quase inexistentes e algumas que existem estão em mau estado de conservação. Depois, infelizmente, para a população local, os alimentos escasseiam, quer pelo preço, quer pela quantidade.

Outra chamada de atenção foi a quase inexistência de população idosa. Embora as estatísticas do país apontem para uma esperança de vida a rondar os setenta anos, eu na cidade onde me encontrava, quase  não vi idosos.
Vi, sim, muitas crianças sozinhas que brincavam em alguns locais com  acessos perigosos e não havia adultos a vigiá-las. Crianças de oito e nove anos que tomavam conta de outras com quatro ou cinco anos.
Retive com muita atenção todas as palavras da minha amiga com elas, fui-me deixando transportar  para uma das ilhas do arquipélago de Cabo Verde.

A minha amiga relatou-me o quotidiano da rapariga que fazia a limpeza todas as manhãs no seu apartamento.   
Com isso, e,  sem ela própria saber, colocou sobre mim a responsabilidade de relatar a quem venha a ler este texto, a história de uma jovem mulher, mãe solteira, que trabalha de sol a sol, para auferir um vencimento mensal de vinte mil escudos cabo verdianos (aproximadamente duzentos euros) e, cuja  esperança em melhores dias, parece comprometida .
A sua filha pequena fica com a avó no “interior” da ilha. Entenda-se como interior uma localidade que dista quinze minutos a pé do empreendimento turístico onde a minha amiga se econtrava, mas que no entendimento da população local, faz a separação entre a zona citadina e rural.
Apenas à terça-feira à tarde, a jovem mulher está com a filha.
A falta de tempo para o lazer é de tal maneira evidente que naquela ilha existe um vulcão e a jovem mulher nunca o viu!
Contou à minha amiga que um dia até  houve um estrangeiro que lhe disse que a levava de automóvel para ver o vulcão e, quando ela  tão feliz foi pedir ao patrão que permitisse a sua ausência no turno da tarde, tendo a mesma arranjado uma colega para  a substituir,  o patrão não permitiu! A tristeza no  rosto  da jovem mulher ao relatar estes factos era por demais evidente.
Ao ouvir este relato, desejo que a vida desta jovem mulher e da sua família, um dia venha a melhorar…
Dadas as características físicas do terreno e inexistência de recursos naturais, não existirão dúvidas, que o turismo, é a melhor solução para a economia daquele arquipélago.

Também,  será,   importante,  chamar atenção para as condições em que vive a população local.   Oxalá os empresários não vejam no turismo apenas um meio de enriquecimento próprio ou de exploração de mão-de-obra da população local.
Os empresários, em conjunto com o Estado,  devem contribuir para a melhoria das condições de vida dos habitantes, pagando o valor justo aos colaboradores pelo seu trabalho.
São os trabalhadores em conjunto com os empresários, que asseguram que o turismo, como outros sectores de actividade, sejam os motores de captação de recursos financeiros para o desenvolvimento do país!
Embora Cabo Verde não tenha sido dos países em África que mais tenha padecido com as “guerras”, ainda tem um longo caminho a percorrer para melhorar as condições de vida das populações.
Por último, desejo que Cabo Verde consiga de ano para ano mundialmente passar a ocupar um local de destaque nos destinos turísticos! 

Cabo Verde