sábado, 31 de dezembro de 2011

Acontecimento de 2011: Os Heróis de Fukushima


É costume em final de cada ano fazerem-se os balanços dos sucessos e insucessos nos mais diversos níveis da história da nossa pegada pelo mundo.

O ano que agora finda, pessoalmente, não me deixará saudades.

No entanto, prefiro terminar o ano destacando um acontecimento que remete a Humanidade para os mais altos valores da sua condição.

Para mim o acontecimento que destaco em 2011 fala de pessoas anónimas, algo que resultou de uma resposta à calamidade que assolou um país, que dista a muitos quilómetros do meu.
Refiro-me aos Heróis da Central Nuclear de Fukushima no Japão.

No dia 11 de Março de 2011, sexta-feira, o Japão foi assolado por um forte terremoto de magnitude 8,9 graus na escala de Reitcher que atingiu em particular a costa nordeste do referido país.

O abalo foi seguido de tsunami (onda gigante com potencial destrutivo) que devastou cidades, arrastando prédios, casas, carros e navios, ceifando todas as vidas que encontrou pela frente.

As imagens são demasiado fortes,  torna-se indescritivel de relatar por palavras um cenário de calamidade tão devastador, tão desolador, perante a impotência humana face à grandiosidade da destruição …

Porque vivemos na era da globalização, da informação em direto, a cobertura televisiva  levou as imagens e os relatos possiveis dos sobreviventes a todo o globo.

Fica uma vez  mais patente o poder da Natureza contra a pequenez humana que muito pouco faz do que está ao seu alcance para proteger o seu habitat natural: a Terra, a casa de todos nós.

Como referi no inicio, tenho a obrigação de destacar um punhado de pessoas anónimas que trabalhavam na Central Nuclear de Fukushima.

Refiram-se pessoas altamente qualificadas, que no momento em que perceberam que os reatores da Central Nuclear estavam em risco de derreter, deram as suas vidas na esperança de minimizarem os efeitos de uma tragédia que já por si era enorme.
  
Pouco ou nada sabemos das vidas particulares dos Heróis da Central Nuclear de Fukushima, tratavam-se de engenheiros, técnicos, outros trabalhadores que se submeteram a elevadas  taxas de radiações,  com o intuito de travarem males maiores, para o Japão, mas, também, para o Mundo.
No entanto, não persistam dúvidas que a Natureza devolverá sempre todos os males que a Humanidade lhe conferir, quer sejam através das emissões de gases poluentes ou seja em nome de qualquer  avanço tecnológico.

Mas o Homem também é capaz de feitos notáveis. Num momento de catástrofe como o foi o Terramoto de Março de 2011 no Japão, dentro de uma Central Nuclear, elevaram-se  altos valores de solidariedade,  que apenas são detidos por pessoas muito especiais, digo mesmo singulares!

Os  Heróis da Central Nuclear de Fukushima, concentraram a sua inteligência para  atenuarem os efeitos muitíssimos nefastos que seria o rebentamento das turbinas da central nuclear, caso não as conseguissem arrefecer.

Num momento de decisão crucial que  para muitos seria fugir… os Heróis de Fukushima sacrificaram a própria vida pela vida de outros humanos, padecendo as terríveis consequências por tal genialidade!

Como portuguesa e europeia, presto-lhes a minha mais sincera homenagem, dizendo-lhes:  OBRIGADA pela coragem demonstrada!

Arigato (有難う)  Heróis de Fukushima!
Hoje dia 31 de Dezembro de 2011 elevo as minhas preces para todos aqueles que já não se encontram entre nós e muito em particular para os Heróis  anónimos de Fukushima!

Devido à sua bravura permitiram-me hoje escrever esta história fazendo-me acreditar que a Humanidade (ainda) tem a oportunidade de encontrar um caminho para os povos de todas as nações continuarem a viver no melhor planeta da Via Láctea: o nosso, o planeta Terra!


sábado, 10 de dezembro de 2011

Portugueses extraordinários: Irmã Maria da Comunidade Vida e Paz

Em 1989 a partir da janela do seu local de trabalho no secretariado-geral do Episcopado, situado no Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa, a Irmã Maria não conseguiu ficar indiferente à problemática dos sem-abrigo.    


Durante o dia deambulavam pessoas pelas ruas  que depois, pernoitavam em condições infra-humanas, com fome, frio e, sobretudo sem amor.

Pessoas que pareciam invisíveis perante os olhares de outras que continuavam o seu percurso sem lhes dedicarem um minuto de atenção.

O entendimento da Irmã Maria, fundadora da Comunidade Vida e Paz, foi pleno, juntamente com outras pessoas pertencentes a um grupo de oração, intitulado de Movimento Carismático, dedicaram mais que um olhar aos sem-abrigo.

Os fundadores da Comunidade Vida e Paz inspirados pelas palavras de S. Paulo aos romanos delinearam um plano de ação para proteger uma população marginalizada, com pessoas velhas, menos velhas e doentes.

Os objectivos primordiais da Comunidade Vida e Paz consistia em retirar das ruas o maior número de pessoas sem-abrigo,   reabilitá-los, de modo a possibilitar a sua reinserção  em sociedade.

Antes de desbravarem terreno junto dos sem-abrigo, os mentores do projeto passaram muito tempo a observar as suas “rotinas”, na tentativa de perceberem as suas reais necessidades.

A intervenção não podia ser “coisa” efémera, estavam a  mexer com vidas de pessoas que já por si, eram muito degradadas, quer fisicamente e/ou psicologicamente.

O plano de ação tinha de ser duradouro e para concretizar e garantir o seu sucesso seria preciso envolver pessoas (de boa vontade) que estivessem prontas a ajudar e a sacrificar algum tempo das suas vidas nas ações de voluntariado, na captação de fundos e, principalmente, dispostas a darem o que de melhor existe no interior de cada ser humano, sem garantia de retorno.

O amor em todas as dimensões é algo que não pode ser substituído por palavras ou planos de intenção.

O amor ao próximo é fazer sentir ao nosso semelhante que estamos prontos a ajudar e acudir, estender a mão e minimizar os sofrimentos.

Desde comida, a agasalhos, o importante era dedicar tempo a pessoas a quem a palavra “presente” está subsumida às necessidades básicas de sobrevivência.


Houve adesão de muitas pessoas à ideia meritória da Irmã Maria, num tempo em que a problemática dos sem-abrigo, não estava na ordem do dia nos meios de comunicação social e, também, das agendas dos decisores políticos.

Em 1989 Portugal ainda estremunhava perante as mudanças sociais, económicas e politicas. Portugal  tinha entrado na Comunidade Europeia em 1986 e, a revolução de Abril, tinha ocorrido somente há 15 anos.

Em Portugal, em virtude das muitas transformações que ocorriam simultaneamente, ambicionava-se atingir um nível de bem-estar e de conforto semelhantes aos de outros países da Europa, esquecendo-se (infelizmente) problemáticas tão diversas, como a dos sem-abrigo.

E, no meio destas convulsões, lá estava a Irmã Maria, muito Iluminada, a pensar em intervir numa comunidade (os sem-abrigo) mais habituada à marginalização.

No entanto, a Força do muito querer, de  intervir e de ajudar foi ganhando alicerces e seguidores.

Desde os finais dos anos 80, todas as noites as carrinhas da Comunidade Vida e Paz  saem para as ruas de Lisboa, com uma legião de voluntários que pela noite dentro levam uma refeição quente, agasalhos e uma palavra de conforto às pessoas que têm como tecto o céu.

Se em 1989 a sociedade parecia indiferente perante a comunidade dos sem-abrigo, na actualidade a conjuntura económica e social parece ser propicia a colocar mais pessoas à margem em virtude do desemprego e da desagregação familiar, entre outras situações.

No presente imperam os “valores” do capitalismo, onde a  procura desenfreada pela obtenção de lucros, concorre com valores mais nobres como o da Solidariedade.

A Irmã Maria com a sua Obra plantou sementes e caberá a todos os que se sentirem tocados pela  imensa generosidade dar continuidade a tão nobre projeto.

Caberá a cada cidadão nas localidades onde reside (seja em Portugal, ou no Mundo) não ficar indiferente à realidade de alguns porque “estamos feitos, mas não acabados” e o que hoje plantamos nas nossas ações diárias havemos de colher no amanhã o resultado .

sábado, 3 de dezembro de 2011

Para os pescadores de Caxinas: A Portuguesa

Foram resgatados do mar com vida os seis pescadores da localidade de Caxinas, freguesia  de Vila de Conde, no norte de Portugal, ao fim de 60 horas de naufrágio!
Esta é uma daquelas notícias que eu não podia deixar passar sem comentar, dado o meu fascínio, em primeiro pelas histórias com finais felizes e, em segundo, pela tentativa de  perceber "ao" que se agarram as pessoas em momentos de aflição.
Comecemos pelo final feliz, ocorrido, ontem, sexta-feira, dia 2 de Dezembro de 2011.


Como potencialidade económica, a atividade da pesca em Portugal, emprega uma parte significativa de homens, oriundos principalmente, das zonas litorais. São conhecidas as rudes condições em que laboram estes homens, seja pelas condições adversas do mar ou pela falta de condições de segurança das próprias embarcações.

O «Virgem do Sameiro» assim, se chamava o barco, onde seguiam os seis pescadores, não dispunha de um sistema de GPS, que permitisse por meio da vigilância por satélite, verificar a sua  localização. O «Virgem do Sameiro» naufragou terça-feira à noite, ao largo da Figueira da Foz.

Após o resgate, os pescadores relataram que o Mestre da embarcação depois dos homens terem lançado as redes ao mar mandou-os  descansar, para depois prosseguirem com a faina.

Foi, no entanto, um curto descanso, dado que o Mestre, ao verificar que a água entrava na casa das máquinas e que o afundamento da embarcação estava eminente,  os alertou !

Rapidamente foi lançada ao mar a “balsa”  de 5 metros, que haveria de  abrigar os seis pescadores nas 60 horas que se seguiram.

A balsa estava equipada com um pequeno kit de água potável,  alimentos e foguetes de sinalização (very lights) .  Quatro sinalizadores foram lançados pelos pescadores sempre que avistavam ao largo alguma embarcação, sem no entanto, conseguirem os resultados esperados.

Imaginem a pequenez humana de seis homens, dentro de uma balsa insuflável perante a imensidão de água em pleno oceano Atlântico.  

As Entidades em Portugal utilizando meios marítimos e aéreos lançaram uma operação de busca e salvamento da embarcação desaparecida. Esta operação de resgate foi por duas vezes interrompida durante a noite. Com o desenrolar das operações e com o passar das horas e sem deslumbrar qualquer sinal, a “esperança” ia-se dissipando em encontrar  os pescadores com vida.

As notícias que vieram a público eram desoladoras. Todas as circunstâncias apontavam que uma vez mais, a desgraça e a perda de vidas humanas, ia de novo assolar a comunidade piscatória de Caxinas. As famílias dos pescadores preparavam-se para receber a noticia da morte dos seus entes queridos.  

Mas, eis que na manhã de sexta-feira, pelas 11H, um helicóptero da Força Aérea Portuguesa, que não estava envolvido na “operação de resgate dos pescadores”, apenas fiscalizava pelo ar possíveis atividades de pesca ilegal, deslumbra na imensidão da água, a luz do quinto sinalizador lançado pelos pescadores!

A tripulação da embarcação
«Virgem do Sameiro» tinha finalmente sido encontrada ao fim de 60 horas à deriva!
A partir daquele momento, em que muitos, afirmam de “acaso”, a tripulação do helicóptero desencadeou os meios para resgatar os seis náufragos.
A operação foi de alto risco, dadas as condições adversas do mar com forte ondulação e com  baixa temperatura da água.

Os militares lançaram-se ao mar para içar um a um os seis pescadores para o  helicóptero que os haveria de transportar para terra.

Vamos à segunda parte da notícia, como conseguem os “Homens” sobreviverem em  condições tão  adversas?  Onde encontram a esperança quando já nada parece fazer “sentido” perante  a iminência da morte?

Recordo-me uma vez mais, dos mineiros chilenos que em 2010 sobreviveram 69 dias soterrados nas profundezas da terra. Também, uma vez mais, o que sobressai dos relatos dos sobreviventes, quer sejam os mineiros, quer sejam neste contexto, os pescadores de Caxinas, foi a FÉ que os manteve vivos perante a aversão!

Dá que pensar, que pelo facto de uns Acreditarem que podem ser salvos, e outros que podem salvar, às vezes os milagres acontecem!

Horas mais tarde a balsa que protegeu os seis pescadores de Caxinas foi recuperada pela Marinha Portuguesa. Dentro da balsa encontravam-se alguns pertences dos seis pescadores, entre os objetos encontrados, estava um terço, que se tornou um símbolo de união e de conforto das longas  horas de provação. O Comandante do navio de resgate da Armada Portuguesa, estava com o terço na mão e disse aos repórteres  que  gostava de o entregar pessoalmente ao Mestre da embarcação, porque segundo as suas palavras sabia bem do valor do “terço” naquelas horas de espera...

Os seis pescadores foram recebidos na terra de Caxinas, como heróis do mar! Aliás, faz todo o sentido, chamarem-lhes “heróis do Mar”! Sem sombra de dúvida, foi por existirem homens com esta fibra e que com este tipo de resiliência que os bravos nossos antepassados, ultrapassaram muitos “cabos das tormentas” e cujo hino nacional os imortalizou.  

Bravo pescadores de Caxinas!

Sejam muito bem-vindos à vossas famílias e ao orgulho nacional, pela resistência e pela força de acreditarem perante obstáculos (quase) intransponíveis!

 Para os pescadores de Caxinas,  A Portuguesa


“Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!”

A Portuguesa