quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Pessoas e Lugares


Voltar a certos  lugares passados muitos anos é como fazer uma  retrospectiva da vida. Do presente, lentamente, recuamos muito tempo, às vezes muitos anos nas nossas memórias. Foi assim, que aconteceu, na última terça-feira, ao cair da noite. Voltei  a  um lugar  do  qual  tenho guardado  na  memória  muito  boas  recordações.  Viajei no  tempo vinte e quatro anos. Já nem o lugar e, tão pouco eu, estamos iguais. O comércio de rua já não é o mesmo que eu visitava. Algumas lojas já mudaram de ramo e outras encerraram portas. Contudo, passar naquela artéria  principal  tem  para  mim  um  significado especial. Tal, como os lugares, há pessoas que deixam em nós marcas, difíceis de apagar ou esquecer. Nessa rua de que falo, existe uma casa centenária, onde habita, ou habitou a pessoa a quem eu apelidei de anjo na minha vida. Emociono-me sempre que o recordo. Foi aquele amigo com quem contei nas horas amargas e, também, nas horas felizes. Num dia em que a saudade apertou já escrevi um pouco sobre este ser humano especialíssimo. Eu tinha vinte anos quando o conheci. Dia após dia, durante sete anos bebia um café com ele, em todos os finais de tarde, a pretexto de colocarmos a conversa em dia. Em todos esses dias felizes, existia uma boa energia durante a nossa conversa. As palavras produzidas durante o diálogo serviam de guias para a minha vida. Para mim, as palavras daquele homem bom, assemelham-se ao discurso de um pai para uma filha. Existia entre nós uma relação de confiança inabalável. Provavelmente, devido aos  trinta anos que separavam as nossas idades, tivemos algumas vezes que ignorar olhares maliciosos de pessoas, desprovidas de princípios morais, que entendiam a nossa relação como não sendo a de simples amizade. No presente, esse tipo de atitude,  engrandece  ainda mais a pessoa com a qual tive a felicidade de me cruzar há vinte e quatro anos atrás. Nada, mas, mesmo, nada, interferiu com a nossa amizade. Nem eu sabia, nem tão pouco ele sabia, que aqueles dias no final de tarde eram momentos únicos e irrepetíveis. Naquele tempo, eu achava, que aquela rotina adquirida se iria prolongar para sempre. Mas, tal, não sucedeu. Por acontecimentos ligados às nossas vidas, aos poucos a nossa rotina foi quebrada. Eu mudei de local de trabalho e a distância de um lugar para outro embora fosse relativa, implicava um planeamento de deslocação. E, assim, uma amizade profunda, resiste até aos dias de hoje, apenas na memória. Na terça-feira, dia 26 de fevereiro, caminhava pela rua contemplando a beleza daquele lugar e tive uma pequena esperança de me cruzar com o meu querido amigo. Pensei para comigo, se num acaso estivéssemos frente a frente, não sei se reconheceríamos o rosto de cada um de nós envelhecido pelo tempo. E, também, porque a passagem do tempo dita as suas regras, os mais de trinta anos  que nos separam, podem ter favorecido a partida do meu amigo para o Reino dos Céus… se, tal, aconteceu, este ser especial acompanhar-me-á em muitos momentos da vida, sem que eu dê pela sua presença. No entanto, seja qual for a distância que agora nos separa, o diálogo, mesmo em silêncio, será interminável…

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Em memória de um anjo

Em outubro de 2012, uma colega de trabalho escapou ilesa a um grave acidente de viação. Daquelas coisas que nos deixam a pensar que existe um anjo no Céu a proteger-nos. Nos meses seguintes, em algumas ocasiões, recordei o acontecimento. Não tenho dúvidas que a vida dela foi poupada porque a sua missão a Terra não está completa. Ontem, esta mesma colega, ao final da noite telefonou-me em pranto, para  informar que um familiar, com apenas 10 anos tinha falecido. O menino com 10 anos não resistiu ao vírus que lhe causou de forma repentina e generalizada uma infeção no organismo. Fico sempre sem saber o que dizer nestas ocasiões. Gostava  de  conhecer  as palavras certas  para  poder diminuir a dor. Estes acontecimentos, principalmente, quando envolvem crianças, são sempre muito dolorosos. Na minha insignificância não encontro explicações plausíveis para partidas em idades tão precoces. Considero que não é natural um filho partir antes dos seus progenitores. A dor daquela mãe face à morte do seu filho é com certeza dilacerante. Considero quando alguém que nos é  querido  morre  leva consigo uma parte de nós. Para quem fica,  na realidade, uma parte, também, sucumbe. Ontem, um filho foi arrancado àquela mãe e, aos restantes familiares sem que  estes consigam encontrar uma razão para a perda. A dor que  trespassa a alma e atinge o coração  irá acompanha-los  para o resto das vidas. A chamada aos Céus em idade precoce está envolta num mistério que apenas Deus conhece. Quero acreditar que Deus chama até Si as crianças para as transformar em anjos. Desejo que a partir  da  nova  casa no Céu, este e outros meninos, ajudem a acalmar a dor no peito,  dos  pais e familiares  que  sofrem em  silêncio as  suas  ausências.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pequenos gestos


Ontem, 19/02/2013, em Lisboa, pela manhã, estava um verdadeiro dia de inverno, com chuva e frio. Como é habitual de manhã, apanhei o autocarro que me permite chegar ao local de trabalho. Não é costume falar com alguém embora conheça pela rotina a paragem onde entram e saem os meus companheiros de viagem. Excetua-se, neste corrupio matinal, uma companheira de viagem com a qual, algumas vezes, troco um “bom-dia” ou falo sobre o atraso do autocarro que nos há-de transportar até ao nosso destino. Nas cidades, as mesmas pessoas cruzam-se, dia após dia, às vezes anos a fio, sem, nunca, aparentemente, quererem saber umas das outras ou simplesmente se cumprimentarem. Mas, dizia, eu, ontem, apanhei o autocarro e na paragem seguinte à minha, entrou uma senhora, que, se sentou, no local habitual, paralelo aquele onde eu estava sentada. Como é costume, saiu na paragem onde fica todos os dias. Pouco tempo depois de ela ter saído olhei para o lugar vazio e verifiquei que a senhora se tinha esquecido do guarda-chuva. Nos instantes seguintes pensei em silêncio sobre o que havia de fazer. Pela minha mente passaram vários cenários, se devia pegar no guarda-chuva e levá-lo comigo para no dia seguinte o entregar ou se pelo contrário ser indiferente à situação e fazer de conta que não estava ali nenhum objeto, sabendo, de antemão que se assim, optasse, a senhora, dificilmente, o voltaria a recuperar. Equacionado o cenário sobre a decisão a tomar, achei por bem fazer a diferença, dirigi-me ao motorista e perguntei-lhe se no dia seguinte ele seria o mesmo a fazer aquela carreira. O senhor informou-me que não conhecia a escala de trabalho para o dia seguinte. Na realidade quando me dirigi ao motorista não tinha a intenção de deixar o guarda-chuva com ele, mas, antes, salvaguardar-me dos olhares dos outros companheiros de viagem que em silêncio, analisavam os meus movimentos. Saí na paragem habitual e além da minha mala, transportava, também, o guarda-chuva pertença de outra pessoa. Quem me conhece sabe o quanto detesto transportar guarda-chuvas, tendo, algumas vezes, sido apanhada desprevenida em dias de intempérie. Talvez por este motivo, hoje de manhã, quase que me esquecia do guarda-chuva em casa, valeu-me atenção da minha família que me alertou. Como todos os dias acontece, apanhei o autocarro no horário e na paragem habitual, na esperança que na paragem seguinte, a senhora entrasse para lhe entregar o guarda-chuva. E, assim sucedeu. Quando a senhora entrou confesso que estava curiosa pela sua reação. A senhora sorriu e agradeceu a minha atenção face ao seu esquecimento, dizendo, que o guarda-chuva era “velho” e, já o dera como perdido. Devolvi o sorriso e disse-lhe que a “antiguidade” do guarda-chuva não era importante para a situação. Durante os breves segundos que durou esta troca de palavras, nunca olhei em redor, para verificar as possíveis reacções dos nossos companheiros de viagem. No entanto, estou segura que desde o momento em que a senhora entrou no autocarro, os olhares recaíram sobre ambas. Pouco importa se na cabeça de outras pessoas havia interpretações menos abonatórias sobre o ato que eu pretendia levar a cabo. Se, assim, aconteceu, hoje aquelas pessoas ao presenciarem a cena, “aprenderam” algo positivo sobre as relações humanas. Estou convicta que algumas destas pessoas em situação similar lembrar-se-ão deste episódio e farão o mesmo do que eu. A senhora como sempre faz, saiu na paragem habitual, mas, antes, quebrou a rotina, dirigiu-se-me, para desejar um bom dia, o qual devolvi na mesma intenção. Acredito que são os pequenos gestos que fazem toda a diferença. São os pequenos gestos que as pessoas não esquecem. Há dias em que transportamos chapéus-de-chuva de outros, quando o sol decide brilhar nos céus e nos sorrir! 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pescadores de homens

Todos viemos ao mundo com uma missão para cumprir. “Deus nunca uma cruz maior do que aquela que podemos carregar”. O nosso propósito de vida encerra desafios especiais. Acredito que em algumas ocasiões todos seremos colocados à prova. É preciso ser resiliente, quando a vida fechar uma porta, acreditar que Deus abrirá uma janela. A missão de alguns é resgatar a vida de outros. Tratam-se dos “pescadores de homens”, pessoas cujos propósitos passam por devolver a dignidade a outros que foram desumanizadas pela sociedade.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Duas caras


No percurso de vida decerto, que já todos sentimos, que algumas pessoas que nos rodeiam têm prazer em nos puxar o tapete. Aparentemente, esse tipo de gente utiliza eventuais relações de poder, para de forma tirânica, perturbar o normal funcionamento da nossa vida. Nem sempre é possível demonstrar o que está certo do que está errado, devido às alianças que certas pessoas se estabelecem entre si, esforçando-se para manter o rumo dos acontecimentos inalterável. Por tendência maquiavélica são utilizados subterfúgios para dissimular uma ação pecaminosa revestindo-a com características de  bem maior. Infelizmente em certas ocasiões já tive de lidar com este tipo de gente dissimulada. É certo que nem sempre consegui que o bem prevalecesse sobre o mal. Quando, assim, sucede, afasto-me, desejando que o tempo se encarregue de demonstrar a verdade dos factos. Por estratégia própria procuro manter – me afastada destas pessoas malévolas sem nunca as perder de vista. A experiência de vida já me demonstrou que este tipo de gente sem carácter, normalmente, são pessoas mal resolvidas e que aguardam uma oportunidade do momento para destilarem sobre outras o veneno que transportam na alma. Confesso que às vezes chego a ter compaixão por este tipo de gente. Não porque me arrogue a um poder superior mas porque lamento a ausência de princípios e valores. Também ao longo do tempo descobri, que determinadas pessoas que gostam de rotular outras com determinadas características (quase sempre pejorativas)  muitas vezes são elas próprias detentoras desses defeitos e os mesmo assentam-lhes como uma luva. Felicito-me sempre quando a justiça consegue desmascarar argumentos maliciosos bem elaborados. Normalmente quando assisto a uma sentença justa por parte de alguém que tem esse poder de avaliar, essa pessoa ganha a minha consideração e o meu respeito. Em sentido contrário, fica o outro grupo de pessoas, as quais abomino, porque disfarçam os seus instintos de maldade com sorrisos sedutores.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Um Portugal distante

A minha mãe nasceu numa pequenina aldeia na Beira Alta, no meio da natureza, entre os animais. Antigamente a vida era dura, ela e algumas crianças desde tenra idade ajudavam os pais nos trabalhos do campo. Não eram poucas, aquelas que iam  para a  escola de pés descalços, enfrentando o frio, a geada e a chuva. Os livros passavam das mãos de um irmão para outro irmão. Na escola primária numa sala de aula a mesma professora ministrava os vários graus de ensino. Os alunos eram divididos da primeira à quarta classe por colunas, quatro fileiras de secretárias madeira umas atrás das outras. No inicio dos anos 60 do século XX, Portugal era um extenso e populoso mundo rural. Nos meios rurais as noticias do país e do mundo sabiam-se através dos rádios a pilhas. Em muitas zonas, não havia eletricidade, nem água canalizada. A água de uso diário nas habitações era transportada da fonte (ou bica) por mulheres e crianças em cântaros e a iluminação assegurada por candeeiros a petróleo. Como não havia futuro nas aldeias (desemprego), muitos foram os habitantes que decidiram emigrar para outras paragens dentro e fora de Portugal. Aos dezoito anos a minha mãe rumou para Lisboa, sendo uma rapariga bonita pouco tempo depois casou. Eu nasci quando ela tinha vinte anos…

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Um diálogo improvável


Desde algum tempo que me deixei de preocupar com o tema que vou utilizar para escrever textos. A experiência diz-me que vai haver uma noticia, uma palavra, uma imagem ou uma determinada pessoa ou situação que me inspirará. A comprovar o que atrás referi, ontem, sem que eu tivesse tempo para refletir, dei por mim a conversar com alguém, que embora conheça há largos anos, seria improvável dizer palavras que não fossem as de circunstância. Foi mesmo uma daquelas conversas que jamais podia antever que  sucedesse. Ao longo dos muitos anos que  nos conhecemos tivemos mais opiniões a  dividir do que a unir. Algumas, vezes, terei,  pensado, que  eu e  ela teríamos de nascer de novo para  desenvolver algum tipo de afinidade…Mas, ontem, como se uma força exterior me tivesse incumbido de determinada missão, dei comigo a soltar a língua, dando a conhecer as minhas ideias, tentando desfazer e acalmar alguns receios daquela pessoa. Foi um diálogo realizado em tom intimista, num clima tranquilo. No final da longa troca de palavras, ambas concordamos que conversa tinha sido inesperada e ao mesmo tempo agradável. Para as memórias futuras ficarão gravadas, aquela sexta-feira onde a comunhão e o respeito mútuo, permitiu um diálogo (muito) improvável, entre duas pessoas com diferentes pontos de vista. Dificilmente, tal oportunidade se voltará no tempo a repetir...