quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Uma questão de tempo

Sentada numa cadeira colocou as mãos entrelaçadas sobre a cabeça como quisesse com este gesto proteger-se dos seus próprios pensamentos. Logo ela que tinha por lema: viver a vida intensamente, como se o amanhã não existisse. Observei-a com a distância que o olhar permite, não quis em nenhum momento perturbar-lhe o silêncio. Pela forma como se contorcia na cadeira percebi que ela não estava nos seus melhores dias. Conheço-a bem demais para que haja a necessidade de palavras para exprimirem o seu estado psicológico. Entre amigas verdadeiras, até os silêncios transmitem mensagens, para outros indecifráveis. Intimamente até sabia aquilo que a perturbava. Talvez por isso considerei, ser mais um motivo para a deixar percorrer aquele caminho interior que só o próprio deve trilhar. Ela sabe intimamente se precisar de alguém ter-me-á a seu lado. Talvez mais tarde ela me chame para revisitarmos algumas lembranças. Talvez mais tarde eu lhe recorde a força que ela possui e que tudo aquilo que agora lhe é desconfortável, dentro de um tempo pertencerá ao passado. Neste instante até este meu monólogo interior parece reforçar o sentimento de amizade que nos une. Contudo ela de tão enredada nos pensamentos, tão pouco deu por mim. Observo-a. Tem o semblante demasiado carregado, fico triste de a ver assim. Numa ocasião confidenciou-me que já não acreditava na felicidade, disse-me que a viveu tão intensamente num tempo, que esgotou essa sensação de bem-estar. Retorqui e disse-lhe que a felicidade é um estado de satisfação onde pequenas coisas podem fazer a diferença. Contei-lhe que por vezes, ainda dou por mim a sorrir sem motivo aparente e essa sensação é boa de sentir. Ao ouvir as minhas palavras que tentavam contrariar um estado de espírito distante, fitou-me nos olhos e,  disse-me, que todos os sentimentos só atingem os objectivos, se forem verdadeiros. O tempo, por exemplo, esse eterno amigo, que suaviza as mágoas, nem sempre está do nosso lado, diga-se no tempo certo. Parece que tudo acontece realmente quando tem de acontecer e, nem sempre as historias têm o final que se deseja. Continuou,  a falar pausadamente, como se medisse todas palavras: por vezes sentimos uma sensação de vazio interior  que parece ser preenchido por emoções confusas, tipo uma manta de retalhos. Faz-se o que se pode e nem sempre o que se deve para seguir em frente. Com o tempo aprende-se a contornar os obstáculos embora alguns persistam em atrapalhar a caminhada. Muitas interrogações ficarão sem resposta. O passado é muitas vezes eleito o melhor dos tempos, sem que possuamos a noção que o presente é realmente tudo o que verdadeiramente importa. Palavras sábias, pensei...