Sentada
numa cadeira colocou as mãos entrelaçadas sobre a cabeça como quisesse com este
gesto proteger-se dos seus próprios pensamentos. Logo ela que tinha por lema:
viver a vida intensamente, como se o amanhã não existisse. Observei-a com a distância
que o olhar permite, não quis em nenhum momento perturbar-lhe o silêncio. Pela
forma como se contorcia na cadeira percebi que ela não estava nos seus melhores
dias. Conheço-a bem demais para que haja a necessidade de palavras para exprimirem
o seu estado psicológico. Entre amigas verdadeiras, até os silêncios transmitem
mensagens, para outros indecifráveis. Intimamente até sabia aquilo que a
perturbava. Talvez por isso considerei, ser mais um motivo para a deixar
percorrer aquele caminho interior que só o próprio deve trilhar. Ela sabe
intimamente se precisar de alguém ter-me-á a seu lado. Talvez mais tarde ela me
chame para revisitarmos algumas lembranças. Talvez mais tarde eu lhe recorde a
força que ela possui e que tudo aquilo que agora lhe é desconfortável, dentro
de um tempo pertencerá ao passado. Neste instante até este meu monólogo
interior parece reforçar o sentimento de amizade que nos une. Contudo ela de
tão enredada nos pensamentos, tão pouco deu por mim. Observo-a. Tem o
semblante demasiado carregado, fico triste de a ver assim. Numa ocasião confidenciou-me
que já não acreditava na felicidade, disse-me que a viveu tão intensamente num
tempo, que esgotou essa sensação de bem-estar. Retorqui e disse-lhe que a
felicidade é um estado de satisfação onde pequenas coisas podem fazer a
diferença. Contei-lhe que por vezes, ainda dou por mim a sorrir sem motivo
aparente e essa sensação é boa de sentir. Ao ouvir as minhas palavras que tentavam
contrariar um estado de espírito distante, fitou-me nos olhos e, disse-me, que
todos os sentimentos só atingem os objectivos, se forem verdadeiros. O tempo,
por exemplo, esse eterno amigo, que suaviza as mágoas, nem sempre está do nosso
lado, diga-se no tempo certo. Parece que tudo acontece realmente quando tem de acontecer
e, nem sempre as historias têm o final que se deseja. Continuou, a falar pausadamente, como se medisse todas palavras: por vezes sentimos uma sensação de vazio interior que parece ser preenchido
por emoções confusas, tipo uma manta de retalhos. Faz-se o que se pode e nem sempre o que se
deve para seguir em frente. Com o tempo aprende-se a contornar os obstáculos
embora alguns persistam em atrapalhar a caminhada. Muitas interrogações ficarão
sem resposta. O passado é muitas vezes eleito o melhor dos tempos, sem que possuamos a noção
que o presente é realmente tudo o que verdadeiramente importa. Palavras sábias, pensei...