Na
minha infância a manhã de domingo tinha um toque de magia. Gostava que os dias
da semana corressem para chegar ao fim-de-semana. Lembro-me de fazer planos
logo no primeiro dia da semana para que todo o tempo de sábado e domingo fossem
bem aproveitados pelas brincadeiras. Quando não tinha companhia para as
brincadeiras entretinha-me com qualquer coisa... às vezes, até
as molas da roupa ganhavam vida e adquiriam
formas de pessoas. Em cima da minha cama de dormir os cobertores eram cuidadosamente
moldados com aquilo que eu chamava de carreiros para que as pernas das molas da roupa pudessem
passar. E, podia ficar assim, a brincar sozinha, dando asas à imaginação, sem ter
a noção das horas a passarem. Mas era sem dúvida o almoço de domingo o que mais me
fascinava! Todo aquele ritual que antecedia a hora da refeição. Cada membro da família
contribuía para o almoço de domingo com uma determinada tarefa, embora coubesse
sempre à mãe a preparação da refeição. Ao domingo a mãe sem ter aquela pressa dos
minutos contados da semana, confecionava quase sempre uma iguaria mais elaborada.
A magia de uma manhã de domingo aumentava se houvessem convidados para o almoço.
Desde que houvesse um significativo número de convidados, o prato escolhido
para confecionar, era quase sempre mesmo: o tradicional, cozido à portuguesa! Nem
sempre esta escolha agradava ao palato de todas as idades. Eu, a minha irmã e,
os primos, quase sempre reclamávamos por um bife com batatas fritas, sem que a iniciativa tivesse muito
sucesso. Havia sempre um adulto que nos informava se não “gostássemos” de comer
por exemplo a “carne de porco” podíamos comer a carne de vaca ou mesmo o frango
cozido que normalmente nos era colocado no prato carinhosamente pelas nossas mães. O
ritual da confeção da refeição na cozinha também era agradável de se observar. As
cozinheiras iam colocando os ingredientes nos tachos e panelas, enquanto falavam
de assuntos que só às mulheres diziam respeito. Os homens arredados das tarefas
domésticas aproveitavam o tempo antes do almoço para conversarem quase sempre de futebol.
Gostava de assistir à conversa de uns e de outros, até a dado momento ser interrompida
pela minha mãe que me incumbia como filha mais velha da tarefa de pôr a mesa, com
a ajuda dos irmãos mais novos que ajudavam no que podiam. À hora marcada, muito
perto da uma da tarde, dava-se, então, ao início do almoço de domingo, em família,
que se prolongava pela tarde fora...
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