quinta-feira, 5 de junho de 2014

Porque o céu tem a cor dos teus olhos


Podia ter ido a uma Igreja porque gosto da tranquilidade dos Templos, mas não fui. Segui o mesmo ritual de muitos dias dirigindo-me ao banco de jardim de onde avisto o céu e o mar. Da minha varanda improvisada sobre o Tejo observo o azul do céu a confundir-se com o do mar. A cor azul que tanto me recorda os olhos da Lina. Há uns tempos atrás as notícias sobre a Lina, não foram aquelas que gostaria de ter escutado. A Lina ontem, 4 de junho, despediu-se de nós. O sofrimento que o cancro lhe causava já lhe feria a alma. Lamentei a sua partida com o coração muito apertado. Hoje sinto-me triste. Não fossem as lágrimas que ajudam a atenuar a dor sentir-me-ia muito pior. Em memória da Lina recuo até à minha infância. A minha querida Lina, uma mulher pequena, de cabelo louro que irei sempre recordar com muito carinho. Naqueles tempos felizes a família Santos Borges era como me pertencesse. Gostava tanto da boa disposição daquela gente durante os convívios. Recordo que a Lina era exímia na confeção do puré de batata com almôndegas. Acho que durante muito tempo este foi o meu prato favorito. Não sei se a Lina morreu feliz…uma daquelas paixões, que presumo arrebatadora a um dos membros da família Santos Borges fez com que deixasse para trás uma outra vida familiar onde se incluíam dois filhos. Enquanto fui criança jamais tive perceção dessa sua escolha. Estou certa que o fez dando voz a um grande amor… também, asseguro, que aquela peça do seu puzzle jamais foi substituída por outra. Sentia-se a nostalgia na voz quando falava dos filhos. Talvez falasse para acalmar a dor que trazia no coração. Talvez tenha comentado o assunto comigo porque das crianças eu era a mais velha – lamento, não  ter dado a importância devida às suas palavras mas aos dez ou onze anos o entendimento das coisas sobre adultos era proporcional à minha existência.  A minha irmã mais nova também recebia muitas atenções da Lina e do seu companheiro. Devido ao seu comportamento tranquilo a minha irmã mais nova acompanhava-a muitas vezes no seu local de trabalho. A Lina confeciona casacos de malha e por ser muito profissional no seu oficio não lhe faltavam as encomendas. Fruto do amor da sua vida a Lina teve outra filha, hoje uma mulher. Estas singelas palavras destinam-se a homenagear uma a minha querida amiga pelos bons momentos que partilhamos em conjunto. Tudo o que agora desejo é que esta guerreira descanse eternamente em paz.

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