sábado, 10 de dezembro de 2011

Portugueses extraordinários: Irmã Maria da Comunidade Vida e Paz

Em 1989 a partir da janela do seu local de trabalho no secretariado-geral do Episcopado, situado no Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa, a Irmã Maria não conseguiu ficar indiferente à problemática dos sem-abrigo.    


Durante o dia deambulavam pessoas pelas ruas  que depois, pernoitavam em condições infra-humanas, com fome, frio e, sobretudo sem amor.

Pessoas que pareciam invisíveis perante os olhares de outras que continuavam o seu percurso sem lhes dedicarem um minuto de atenção.

O entendimento da Irmã Maria, fundadora da Comunidade Vida e Paz, foi pleno, juntamente com outras pessoas pertencentes a um grupo de oração, intitulado de Movimento Carismático, dedicaram mais que um olhar aos sem-abrigo.

Os fundadores da Comunidade Vida e Paz inspirados pelas palavras de S. Paulo aos romanos delinearam um plano de ação para proteger uma população marginalizada, com pessoas velhas, menos velhas e doentes.

Os objectivos primordiais da Comunidade Vida e Paz consistia em retirar das ruas o maior número de pessoas sem-abrigo,   reabilitá-los, de modo a possibilitar a sua reinserção  em sociedade.

Antes de desbravarem terreno junto dos sem-abrigo, os mentores do projeto passaram muito tempo a observar as suas “rotinas”, na tentativa de perceberem as suas reais necessidades.

A intervenção não podia ser “coisa” efémera, estavam a  mexer com vidas de pessoas que já por si, eram muito degradadas, quer fisicamente e/ou psicologicamente.

O plano de ação tinha de ser duradouro e para concretizar e garantir o seu sucesso seria preciso envolver pessoas (de boa vontade) que estivessem prontas a ajudar e a sacrificar algum tempo das suas vidas nas ações de voluntariado, na captação de fundos e, principalmente, dispostas a darem o que de melhor existe no interior de cada ser humano, sem garantia de retorno.

O amor em todas as dimensões é algo que não pode ser substituído por palavras ou planos de intenção.

O amor ao próximo é fazer sentir ao nosso semelhante que estamos prontos a ajudar e acudir, estender a mão e minimizar os sofrimentos.

Desde comida, a agasalhos, o importante era dedicar tempo a pessoas a quem a palavra “presente” está subsumida às necessidades básicas de sobrevivência.


Houve adesão de muitas pessoas à ideia meritória da Irmã Maria, num tempo em que a problemática dos sem-abrigo, não estava na ordem do dia nos meios de comunicação social e, também, das agendas dos decisores políticos.

Em 1989 Portugal ainda estremunhava perante as mudanças sociais, económicas e politicas. Portugal  tinha entrado na Comunidade Europeia em 1986 e, a revolução de Abril, tinha ocorrido somente há 15 anos.

Em Portugal, em virtude das muitas transformações que ocorriam simultaneamente, ambicionava-se atingir um nível de bem-estar e de conforto semelhantes aos de outros países da Europa, esquecendo-se (infelizmente) problemáticas tão diversas, como a dos sem-abrigo.

E, no meio destas convulsões, lá estava a Irmã Maria, muito Iluminada, a pensar em intervir numa comunidade (os sem-abrigo) mais habituada à marginalização.

No entanto, a Força do muito querer, de  intervir e de ajudar foi ganhando alicerces e seguidores.

Desde os finais dos anos 80, todas as noites as carrinhas da Comunidade Vida e Paz  saem para as ruas de Lisboa, com uma legião de voluntários que pela noite dentro levam uma refeição quente, agasalhos e uma palavra de conforto às pessoas que têm como tecto o céu.

Se em 1989 a sociedade parecia indiferente perante a comunidade dos sem-abrigo, na actualidade a conjuntura económica e social parece ser propicia a colocar mais pessoas à margem em virtude do desemprego e da desagregação familiar, entre outras situações.

No presente imperam os “valores” do capitalismo, onde a  procura desenfreada pela obtenção de lucros, concorre com valores mais nobres como o da Solidariedade.

A Irmã Maria com a sua Obra plantou sementes e caberá a todos os que se sentirem tocados pela  imensa generosidade dar continuidade a tão nobre projeto.

Caberá a cada cidadão nas localidades onde reside (seja em Portugal, ou no Mundo) não ficar indiferente à realidade de alguns porque “estamos feitos, mas não acabados” e o que hoje plantamos nas nossas ações diárias havemos de colher no amanhã o resultado .

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