A Ti, jovem mãe, pelo teu exemplo de Amor
A
Tragédia de Entre-os-Rios, ocorrida a 4 de março de 2001, pelas 21:15 horas,
consistiu no colapso da Ponte centenária Hintze Ribeiro, que fazia a ligação
entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Consequência direta do
acidente resultou na perda de vida de 59 pessoas, alguns, eram passageiros de um
autocarro, outros, de três automóveis que tentavam alcançar a outra margem do rio
Douro. Os passageiros do autocarro regressavam a casa depois de uma excursão,
vinham todos, de um dia alegre e bem passado. Muitas daquelas pessoas que
viajavam no autocarro tinham relações familiares entre si, outras, tinham
relações de amizade. Consequência, também, daquele fatídico domingo,
várias famílias, foram privadas da companhia, dos seus entes queridos, que não
chegaram à outra margem. Nesse domingo, de forma imediata, uma tristeza
se abateu sobre mim. Das muitas tragédias que vão ocorrendo pelo mundo e,
também, no meu país, esta tocou-me, em particular! Eu, na altura, aproveitava
ao máximo os meus fins-de-semana para estudar. Lembro-me que agarrava com força todas oportunidades, para ser
bem-sucedida no meu curso superior. Afinal, por tendência eu não viro as costas
aos desafios e, muito menos às metas pessoais, portanto, tentava, aproveitar ao segundo,
o tempo sobrante da minha rotina profissional e pessoal para me preparar para
as avaliações académicas. Naquele mês de março, sentia-me, desgastada
psicologicamente e fisicamente, com o ritmo imposto de trabalhadora-estudante e
mãe de família. Em 2001, era, também, uma mãe recente. A minha filha, tinha
completado, há pouco tempo três anos. Por mais energia que eu possua, sentia-me
na época, que não estava à altura de todas as exigências a que me tinha
proposto. Não gosto de fazer as coisas só por fazer. Tudo para mim tem que ter
um propósito e de preferência dar prazer. Considero que o prazer é uma
espécie de ingrediente secreto para a felicidade, quando o depositamos nas
nossas realizações, o resultado final, é sempre melhor. Recuando de novo, àquele domingo, 4 de março de 2001, lembro-me
de estar a estudar para a disciplina “Teorias Sociológicas”. Esboço, um
sorriso, agora que escrevo isto, porque se algum dos meus colegas ou antigos
professores (agora, também amigos) ler este texto, concordarão, que esta
disciplina basilar do curso é, também, o “calcanhar de Aquiles” para muitos
estudantes. Como relatava, fiquei perturbada ao receber a notícia da derrocada
da ponte e, continuei, assim, nos dias que se seguiram, quando as vidas daquelas
pessoas, deixaram de ser meras estatísticas e, passaram a ser vidas de gente,
com história pessoal. Naquele dia em Portugal, houve demasiadas lágrimas, como
sempre ocorre em todas as tragédias. Houve demasiado sofrimento e demasiados
adeus. Fixei, a minha atenção, em particular na história de uma jovem mãe que
viajava no autocarro e transportava o seu rebento ao colo. Outra, consequência
do acidente, foi o facto, de muitos dos corpos ao caírem às águas do rio, nunca
terem aparecido, foram levados pelas correntes. Mas, aquela mãe, mesmo num
momento de aflição não largou o seu bebé dos seus braços, mesmo, sabendo da
inevitabilidade do fim… ambos, foram, resgatados das águas, sem vida. Aquela
mãe, lutou com todas e mais algumas forças, para que não fosse separada do seu
filho e conseguiu! Foram juntos a enterrar, ninguém os separou! Os humanos no
seu esplendor, têm estas coisas, de preservar, para memória futura exemplos de
amor grandioso. Não creio que existam palavras que consigam traduzir a
magnificência desta imagem. Outra consequência, para mim, naquele dia foi a
lição retirada daquela tragédia. Jurei,
que acontecesse o que sucedesse na minha vida, em honra daqueles que perderam a
vida, eu tinha obrigação de simplificar as minhas lutas! Principalmente,
em honra daquela jovem mãe, eu teria de dar significado ao seu sacrifício. A
única coisa que podia fazer por alguém
que não conheci, mas, que admiro pela força, seria, honrar o amor que ela
demonstrou pelo filho, não o largando na força das águas do rio…ela, ficou com
ele, abraçando-o contra si. Revi-me nela, eu teria, feito, exatamente a mesma
coisa! Em silêncio, acho que lhe direcionei as minhas palavras de admiração, que sorri, para
alguém que não conheço, mas, de quem me lembro, quando algum obstáculo se
atravessa no meu caminho. Acho que lhe dedico, muitos momentos da minha
vida, preferindo, é certo, todos aqueles com final feliz. Desde aquele dia que
a pretendo visitar na sua morada final, na localidade Entre-os-Rios. Numa
altura em que viajava, já estive perto da localidade, mas, não consegui
convencer, quem me acompanhava, a fazer o desvio no trajeto, até ao cemitério
e, procurar pela morada daquela jovem mulher. Um dia colocar-me-ei a caminho e
irei visitá-la. Recordo, também, quanto finalizei o meu curso superior com mais
ou menos dificuldades, houve três pessoas a quem dediquei o meu esforço: à
minha mãe, à minha filha e, o meu o pensamento voou até à jovem mãe de
Entre-os-Rios, a quem disse Muito Obrigada, por ter transformado com o seu
exemplo de Amor as minhas dificuldades em nada! Afinal, a força que ela
transmitiu, foi coisa suficiente, para em muitos dias eu sorrir, mesmo,
algumas, vezes, com os olhos cheios de lágrimas.
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