sábado, 18 de maio de 2013

Pontes da memória

 
A Ti, jovem mãe, pelo teu exemplo de Amor
 

A Tragédia de Entre-os-Rios, ocorrida a 4 de março de 2001, pelas 21:15 horas, consistiu no colapso da Ponte centenária Hintze Ribeiro, que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Consequência direta do acidente resultou na perda de vida de 59 pessoas, alguns, eram passageiros de um autocarro, outros, de três automóveis que tentavam alcançar a outra margem do rio Douro. Os passageiros do autocarro regressavam a casa depois de uma excursão, vinham todos, de um dia alegre e bem passado. Muitas daquelas pessoas que viajavam no autocarro tinham relações familiares entre si, outras, tinham relações de amizade. Consequência, também, daquele fatídico domingo, várias famílias, foram privadas da companhia, dos seus entes queridos, que não chegaram à outra margem. Nesse domingo, de forma imediata, uma tristeza se abateu sobre mim. Das muitas tragédias que vão ocorrendo pelo mundo e, também, no meu país, esta tocou-me, em particular! Eu, na altura, aproveitava ao máximo os meus fins-de-semana para estudar. Lembro-me que agarrava com  força todas oportunidades, para ser bem-sucedida no meu curso superior. Afinal,  por tendência eu não viro as costas aos desafios e, muito menos às metas pessoais, portanto, tentava, aproveitar ao segundo, o tempo sobrante da minha rotina profissional e pessoal para me preparar para as avaliações académicas. Naquele mês de março, sentia-me, desgastada psicologicamente e fisicamente, com o ritmo imposto de trabalhadora-estudante e mãe de família. Em 2001, era, também,  uma mãe recente. A minha filha, tinha completado, há pouco tempo três anos. Por mais energia que eu possua, sentia-me na época, que não estava à altura de todas as exigências a que me tinha proposto. Não gosto de fazer as coisas só por fazer. Tudo para mim tem que ter um propósito e de preferência dar prazer. Considero que o prazer é uma espécie de ingrediente secreto para a felicidade, quando o depositamos nas nossas realizações, o resultado final, é sempre melhor. Recuando de novo, àquele domingo, 4 de março de 2001, lembro-me de estar a estudar para a disciplina “Teorias Sociológicas”. Esboço,  um sorriso, agora que escrevo isto, porque se algum dos meus colegas ou antigos professores (agora, também amigos) ler este texto, concordarão, que esta disciplina basilar do curso é, também, o “calcanhar de Aquiles” para muitos estudantes. Como relatava, fiquei perturbada ao receber a notícia da derrocada da ponte e, continuei, assim, nos dias que se seguiram, quando as vidas daquelas pessoas, deixaram de ser meras estatísticas e, passaram a ser vidas de gente, com história pessoal. Naquele dia em Portugal, houve demasiadas lágrimas, como sempre ocorre em todas as tragédias. Houve demasiado sofrimento e demasiados adeus. Fixei, a minha atenção, em particular na história de uma jovem mãe que viajava no autocarro e transportava o seu rebento ao colo. Outra, consequência do acidente, foi o facto, de muitos dos corpos ao caírem às águas do rio, nunca terem aparecido, foram levados pelas correntes. Mas, aquela mãe, mesmo num momento de aflição não largou o seu bebé dos seus braços, mesmo, sabendo da inevitabilidade do fim… ambos, foram, resgatados das águas, sem vida. Aquela mãe, lutou com todas e mais algumas forças, para que não fosse separada do seu filho e conseguiu! Foram juntos a enterrar, ninguém os separou! Os humanos no seu esplendor, têm estas coisas, de preservar, para memória futura exemplos de amor grandioso. Não creio que existam palavras que consigam traduzir a magnificência desta imagem. Outra consequência, para mim, naquele dia foi a lição retirada daquela tragédia.  Jurei, que acontecesse o que sucedesse na minha vida, em honra daqueles que perderam a vida,  eu tinha obrigação de simplificar as minhas lutas! Principalmente, em honra daquela jovem mãe, eu teria de dar significado ao seu sacrifício. A única coisa que  podia fazer por alguém que não conheci, mas, que admiro pela força, seria, honrar o amor que ela demonstrou pelo filho, não o largando na força das águas do rio…ela, ficou com ele, abraçando-o contra si. Revi-me nela, eu teria, feito, exatamente a mesma coisa! Em silêncio, acho que lhe direcionei as minhas palavras de admiração, que sorri, para alguém que não conheço, mas, de quem me lembro, quando algum obstáculo se atravessa no meu caminho. Acho que lhe dedico, muitos momentos da minha vida, preferindo, é certo, todos aqueles com final feliz. Desde aquele dia que a pretendo visitar na sua morada final, na localidade Entre-os-Rios. Numa altura em que viajava, já estive perto da localidade, mas, não consegui convencer, quem me acompanhava, a fazer o desvio no trajeto, até ao cemitério e, procurar pela morada daquela jovem mulher. Um dia colocar-me-ei a caminho e irei visitá-la. Recordo, também, quanto finalizei o meu curso superior com mais ou menos dificuldades, houve três pessoas a quem dediquei o meu esforço: à minha mãe, à minha filha e, o meu o pensamento voou até à jovem mãe de Entre-os-Rios, a quem disse Muito Obrigada, por ter transformado com o seu exemplo de Amor as minhas dificuldades em nada! Afinal, a força que ela transmitiu, foi coisa suficiente, para em muitos dias eu sorrir, mesmo, algumas, vezes, com os olhos cheios de lágrimas.

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