sábado, 2 de novembro de 2013

Com os olhos nas águas do Tejo


No tempo que seguiu ao teu derradeiro adeus senti a ansiedade a apoderar-se  do meu estado  de  espírito. Durante largo tempo não fui bem-sucedida nas tentativas  que  realizei  para esboçar um simples sorriso, a tristeza fez questão de me acompanhar em demasiados dias. Assumi com a tua partida que uma parte de mim sucumbira para todo o sempre. Nesse tempo sombrio não encontrei motivos para que o coração continuasse a bater, a minha alma vazia não desejava sequer continuar a viver. Sobrevivi porque as funções vitais desempenharam convenientemente o seu papel. O luto, esse, não passa nunca. Com o passar dos anos a dor foi apenas diminuindo de intensidade tornando o luto numa espécie de convívio diário. Há dias num final de tarde quando regressava a casa, viajava absorta em muitos pensamentos com o olhar perdido nas águas do rio Tejo, quando um agradável cheiro a perfume se intrometeu entre mim e a paisagem. Senti um arrepio a percorrer o meu corpo. Aquele cheiro a perfume levou-me de novo até ti. Todos os significados da nossa história continuam bem presentes - aquele perfume foi-me há muitos anos oferecido por ti e, tornou-se uma parte de nós - tu e eu recordaríamos aquele aroma como nosso. Do nosso passado não recordo as palavras ditas, nem tão pouco os silêncios do  olhar, mas na memória  ficaram registadas as emoções sentidas. Aquele aroma de um perfume doce guiou-me no tempo, a uma outra tarde décadas atrás, onde tu estavas em casa doente e eu só desejava chegar depressa para ficar ao teu lado. Lembro-me  que desse tempo longínquo, os nossos sentimentos de amor pareciam perfeitos, mas tudo tem um fim… Lamentei de novo a ausência num espaço que te pertence e, com saudade afastei as lágrimas do meu coração. Com os olhos postos nas águas do Tejo a luz alaranjada do sol levou-me de novo ao presente. Aprendi que na vida às vezes perdemos mas que o amanhã será sempre um novo dia.

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