No
tempo que seguiu ao teu derradeiro adeus senti a ansiedade a
apoderar-se do meu estado de espírito. Durante largo tempo não fui bem-sucedida nas
tentativas que realizei para esboçar um simples sorriso, a tristeza fez questão
de me acompanhar em demasiados dias. Assumi com a tua partida que uma parte de mim sucumbira para
todo o sempre. Nesse tempo sombrio não encontrei motivos para que o coração
continuasse a bater, a minha alma vazia não desejava sequer continuar a viver. Sobrevivi
porque as funções vitais desempenharam convenientemente o seu papel. O luto,
esse, não passa nunca. Com o passar dos anos a dor foi apenas diminuindo de
intensidade tornando o luto numa espécie de convívio diário. Há dias num final de tarde
quando regressava a casa, viajava absorta
em muitos pensamentos com o
olhar perdido nas águas do rio Tejo, quando um agradável cheiro a perfume se
intrometeu entre mim e a paisagem. Senti um arrepio a percorrer o meu
corpo. Aquele cheiro a perfume levou-me de novo até ti. Todos os significados
da nossa história continuam bem presentes - aquele perfume foi-me há muitos anos oferecido por ti e, tornou-se uma parte de nós - tu e eu recordaríamos aquele aroma como nosso. Do nosso passado não recordo as palavras ditas,
nem tão pouco os silêncios do olhar, mas na memória ficaram registadas
as emoções sentidas. Aquele aroma de um perfume doce guiou-me no tempo, a uma outra tarde décadas atrás, onde tu estavas em casa doente e eu só desejava
chegar depressa para ficar ao teu lado. Lembro-me que desse tempo longínquo,
os nossos sentimentos de amor pareciam perfeitos, mas tudo tem um fim… Lamentei de novo a ausência num espaço
que te pertence e, com saudade afastei as lágrimas do meu coração. Com os olhos postos
nas águas do Tejo a luz alaranjada do sol levou-me de novo ao presente. Aprendi
que na vida às vezes perdemos mas que o amanhã
será sempre um novo dia.
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