terça-feira, 12 de novembro de 2013

Não importa onde nascem as amendoeiras (desde que floresçam!)

«Acreditas em vidas passadas?» Ele esboçou um ligeiro sorriso no rosto ao mesmo tempo que o abanar de cabeça pretendeu responder à questão negativamente. Que pena! – Pensou ela –, tivesse ele respondido de outro modo ou quisesse explorar o lado místico daquela relação, o tema só por si, ocuparia muito daquela conversa. Se bem que ela não acreditou muito no teor da resposta. Algumas pessoas mesmo quando afirmam não acreditar naquilo que não conseguem observar ou experimentar têm sempre um lado místico associado às suas vidas. O misticismo é a procura do ser humano pela comunhão entre o espirito e a realidade; ou seja, algo que em alguns momentos permite explicar determinados acontecimentos ou mesmo ligações a determinadas pessoas em detrimento de outras. Quando um ser humano se liberta das regras impostas consegue viajar até aos confins da mente, para a época mais embrionária da consciência, onde a fronteira entre o real e o sonho se cruza. Aquela amizade era disso prova, verdadeira e especial, resistente à erosão do tempo e das circunstâncias. Ao longo dos anos tinham preservado no interior de cada um uma espécie de cantinho isolado, onde o sentir flui para além das palavras e onde o silêncio encerra em si mesmo múltiplos significados. Ela acreditava que duas almas quando se entrelaçam, encontrar-se-ão muitas vezes em tempos e lugares diferentes das suas realidades. Ambos sentiriam em tantos dias aquilo que outros já protagonizaram em histórias imemoriais. Lembro-me de uma história, daquelas que se contam às crianças e que se reveste de amor e de esperança. Reza a lenda que uma linda princesa nórdica que vivia nas terras quentes de Portugal, não conseguia sorrir nem ser feliz porque as saudades do manto branco que cobria os campos da sua terra no inverno eram imensas. Até que o rei mouro, temendo perder a sua amada teve a brilhante ideia de mandar plantar por todo o Algarve grandes extensões de amendoeiras que, no início de cada Primavera davam à princesa a ilusão da neve e, assim, ela ficou curada da sua nostalgia. O rei mouro e a princesa viveram um intenso amor e, ano após ano, a Primavera renovava o maravilhoso espetáculo das amendoeiras em flor. Não importa onde nascem as amendoeiras, quando duas almas se encontram, “jamais se sentirão sozinhas, porquanto entenderem, por si só, a infinita necessidade, que têm uma da outra para toda a eternidade”.1

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