sábado, 14 de janeiro de 2012

Epitáfio

Lentamente, entrei e passei o portão, dando passos pequenos na estrada de pedras que me levam a ti. Havia  pensado muitas vezes vir visitar-te. No entanto, cada vez que me coloquei a caminho, desisti sempre. Na realidade o meu coração não é assim tão forte de maneira que eu consiga suportar a dor do reencontro. Mas, hoje, tomei a decisão de arranjar coragem e fazer-me ao caminho. Devo confessar que a paisagem da tua morada final é linda! O silêncio da tua casa condiz com o meu estado d’alma e o vento que toca a minha face assemelha-se à saudade do teu beijo! No turbilhão dos pensamentos que me assolam a alma não consigo controlar as lágrimas que rolam rosto abaixo. Continuo a caminhar devagar, olhando as pedras tumulares, com inscrições de saudade, recordado as memórias passadas e o sofrimento dos que ficam. Cheguei e estou diante de ti, esboço um sorriso e cumprimento-te em silêncio. Porquê? Como foi possível partires tão cedo quando tudo pareceria estar a começar? Quebraste a promessa de ficarmos juntos para sempre, porquê? Porquê? Continuo tão revoltada com o teu adeus e já passaram tantos anos. Recordo todas as palavras e, principalmente, aquelas que não tive tempo de dizer. Partiste e não te despediste, deixando-me a alma desfeita e um sentimento de saudade tão grande e difícil de suportar. Agarro-me àquele momento, muito nosso, em que nos olhámos nos olhos e prometemos a eternidade um ao outro. Estávamos a regressar a casa e passávamos a ponte 25 de Abril cuja luz parecia iluminar o nosso juramento. Diante de nós tínhamos o Cristo-Rei como testemunha das nossas palavras. Não havia nada nem ninguém que pudesse interferir connosco, todas as dificuldades seriam combatidas e todas as alegrias haveriam ser comemoradas. Naquele momento eu senti que as nossas vidas estavam destinadas a unirem-se para todo o sempre… Luto por me agarrar àquele instante, aquele momento de nós, em que tudo nos parecia possível! Mais do que o dia da nossa união, foi aquele momento que me ligou a ti, em que tive a certeza que te pertencia e que tu, também, eras meu! O que haveria de querer mais da vida? Nada, absolutamente, nada! Não existe sentimento mais belo que o amor e o amor quando verdadeiro consegue vencer todas as barreiras, todas as dificuldades. Selámos aquele momento tão nosso com o olhar entrelaçado, tal com as nossas mãos se uniram em compromisso. Pensavamos que aquele momento tão belo e singelo seria repetido em muitos dias da nossa vida.  Agora, que estou diante de ti, pergunto, o que significa todo o sempre? Não obtenho respostas que confortem o pesar do meu coração despedaçado. Os dias que se seguiram ao nosso instante de encantamento, foram demasiado breves. Aliás, eu iria achar todos os dias contigo sempre muito breves, tu partiste e eu fiquei só…Hoje, porque te vim visitar, ficas desde já convocado para me acompanhares e não te perdoarei se quando te chamar não  escutares as palavras que guardo só  para ti. Verás como são difíceis os meus dias e como é difícil viver na solidão…sem ti!


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