sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vesti-me de azul

Demorei 30 anos, parece muito tempo mas, na realidade, recordo como fosse ontem... Tudo se passou quando tinha 9 anos e estava preparada para realizar a Primeira Comunhão e não compareci na Igreja, porquê? Porque o preconceito social em finais dos anos setenta ainda impunha que as meninas nestas ocasiões, fossem vestidas de branco e eu não tinha o tal vestido... Certamente que podia ter ido na mesma, desafiando os cânones da época mas não tive coragem de ir lá sozinha. Nenhum adulto da minha casa se disponibilizou para me acompanhar. Afinal, eu desde cedo, tinha frequentado a catequese por livre e espontânea vontade. Na infância percorri ano após ano, os ritos para receber o sacramento e, quando chegou o dia, num domingo de manhã, eu não fui...foram precisos 30 anos para voltar! Mas, ontem, 18/05/2008, a menina de "9 anos", esteve comigo, radiante na Igreja e, desta vez fomos ambas vestidas de azul, a minha cor favorita! Sem, qualquer tipo de critica associada, muitas pessoas estavam vestidas a rigor, como há 30 anos atrás, eu estava vestida como todos os dias, apenas desta vez, não receei o olhar dos outros, nem outro qualquer preconceito. O meu "eu" de 9 anos foi levado pela mão do "eu" de 39, ambas com um sorriso estampado no rosto elucidativo de um grande sentimento de Felicidade.  Este dia perdurará na minha memória como um dia muito emotivo, como teria sido há 30 anos atrás, mas desta vez, será recordado pela concretização de um desejo antigo! Parafraseando a minha catequista, a Helena, uma mulher inteligente que me descodificou saudavelmente, muitas imagens da Bíblia e, também, me mostrou o lado positivo da Igreja Católica: "o Tempo de Deus, não é o tempo dos homens"! Palavras às quais  eu, acrescento, cada um de nós deve fazer o melhor que sabe para viver bem e fazer o bem, todos os dias são dias de escolha, entre o bem e o mal. Se Deus nos criou à sua imagem e semelhança não pode como Pai que ama os filhos nos ver tristes, nem tão pouco infelizes ou mesmo nos penalizar, aceita-nos como nós somos. Os homens, esses, sim, pela sua pequenez arrogam-se a um poder julgador que não possuem! Acredito que não há Deus à medida dos homens, nem um Deus castigador, quem, efetivamente, julga os nossos actos é a nossa consciência, pelo que todos os dias fazemos escolhas. Ontem, o primeiro beijo de felicitação veio da minha mãe, aquele momento foi muito nosso, seguiram-se outros, da restante família, onde se incluem os meus queridos filhos, mas, efetivamente, aquele beijo da minha mãe foi muito especial, pois agora, estamos ambas em Paz! 

18 maio de 2008

Sem comentários:

Enviar um comentário