Demorei
30 anos, parece muito tempo mas, na realidade, recordo como fosse ontem... Tudo se
passou quando tinha 9 anos e estava preparada para realizar a Primeira
Comunhão e não compareci na Igreja, porquê? Porque o preconceito social em finais
dos anos setenta ainda impunha que as meninas nestas ocasiões, fossem vestidas
de branco e eu não tinha o tal vestido... Certamente que podia ter ido na
mesma, desafiando os cânones da época mas não tive coragem de ir lá sozinha. Nenhum adulto da minha casa se disponibilizou para me acompanhar.
Afinal, eu desde cedo, tinha frequentado a catequese por livre e espontânea
vontade. Na infância percorri ano após ano, os ritos para
receber o sacramento e, quando chegou o dia, num domingo de manhã, eu não
fui...foram precisos 30 anos para voltar! Mas, ontem, 18/05/2008, a menina de
"9 anos", esteve comigo, radiante na Igreja e, desta vez fomos ambas vestidas
de azul, a minha cor favorita! Sem, qualquer tipo de critica associada, muitas
pessoas estavam vestidas a rigor, como há 30 anos atrás, eu estava vestida como
todos os dias, apenas desta vez, não receei o olhar dos outros, nem outro qualquer
preconceito. O meu "eu" de 9 anos foi levado pela mão do "eu"
de 39, ambas com um sorriso estampado no rosto elucidativo de um
grande sentimento de Felicidade. Este dia perdurará na minha memória como um
dia muito emotivo, como teria sido há 30 anos atrás, mas desta vez, será
recordado pela concretização de um desejo antigo! Parafraseando a minha catequista, a
Helena, uma mulher inteligente que me descodificou saudavelmente, muitas
imagens da Bíblia e, também, me mostrou o lado positivo da Igreja Católica:
"o Tempo de Deus, não é o tempo dos homens"! Palavras às quais eu, acrescento, cada um de nós deve fazer o
melhor que sabe para viver bem e fazer o bem, todos os dias são dias de
escolha, entre o bem e o mal. Se Deus nos criou à sua imagem e semelhança não
pode como Pai que ama os filhos nos ver tristes, nem tão pouco infelizes ou
mesmo nos penalizar, aceita-nos como nós somos. Os homens, esses, sim, pela sua
pequenez arrogam-se a um poder julgador que não possuem! Acredito que não há
Deus à medida dos homens, nem um Deus castigador, quem, efetivamente, julga os
nossos actos é a nossa consciência, pelo que todos os dias fazemos escolhas.
Ontem, o primeiro beijo de felicitação veio da minha mãe, aquele momento foi muito
nosso, seguiram-se outros, da restante família, onde se incluem os meus queridos
filhos, mas, efetivamente, aquele beijo da minha mãe foi muito especial, pois
agora, estamos ambas em Paz!
18 maio de 2008
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