Lembro-me
como tivesse sido hoje. Estava no autocarro quando entraste. Estava sentada num
banco junto à janela. Tive oportunidade de fazer de conta que não tinha dado pela tua presença. Seria demasiado fácil para mim não me fazer notar. Algumas vezes observei pessoas que ao entrarem num meio de transporte estarem mais interessadas em ocupar um espaço do que percorrer os rostos dos companheiros de viagem. Optei por falar. A impulsividade é uma característica
que me acompanhará até ao final dos meus dias. Passados mais de vinte anos
sobre este acontecimento congratulo-me de ter tomado a melhor decisão.
Arrepender-me-ia neste preciso momento se porventura recordasse o episódio sem te
ter cumprimentado. Inesperadamente sou invadida por uma desassossegada nostalgia.
Uma espécie de tristeza serve-me de companhia durante a curta viagem.
Estou de novo dentro de um autocarro e sentada num banco junto à janela como tanto
gosto. Desta vez porém tenho a certeza que não irás entrar pela porta e não serei
assolada por qualquer espécie de incerteza. Também no céu o sol já não brilha
como outrora, a lua vai ocupando lugar na noite escura como breu. Senti de
repente uma saudade dorida e uma lágrima atrevida não se conteve e rolou pela
face, após um pálido sorriso. No outono da vida, por instantes, dou por mim, a amaldiçoar
o tempo que acaba com a magia da adolescência, onde tudo muda demasiado rápido.
Cada vez mais verdade que “o valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem”.
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