terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nas Tuas mãos

Dou por mal empregue o tempo ocupado pelo meu pensamento para estruturar frases sobre o que havia de escrever nesta data. Ensaiei por algumas vezes a combinação «certa» de frases cujas palavras descrevessem  os  sentimentos que pairavam na mente. Em alguns dias consegui expressar em outros textos o que sentia no momento. O livro da vida é composto por múltiplos capítulos, alguns já escritos, outros cujas páginas em branco aguardam palavras de uma história (quase sempre) diferente do plano inicialmente traçado. A conclusão a que chego é que tudo o que vem até nós vem no tempo certo. Nas páginas do livro pessoal que leva mais de quatro décadas  apenas tenho o conforto de saber que jamais desvirtuei o sentido das palavras, escrevi o que era verdadeiro mesmo quando a inspiração ou o rumo dos acontecimentos pareciam fugir de mim. Afinal, aqui, estou eu, no dia por que tanto ansiei, fazendo uma espécie de balanço deste quarto de século que me pertence, como se este exercício arrumasse dentro do meu interior os acontecimentos no devido lugar, catalogando-os por assuntos, conforme o seu grau de importância. Nesta espécie de introspecção com data marcada dou comigo a pensar que as etiquetas mentais são resultado das aprendizagens adquiridas ao longo da vida, valorizam o que é de valorizar, perdoam o que é de perdoar. Lamentavelmente, direi, que (ainda) não tenho o condão de esquecer o que é de esquecer, possivelmente por acreditar que a responsabilidade de cada um deve ser assumida. Sendo, igualmente, verdadeiro que a palavra rancor ou outras suas semelhantes não farão parte do meu léxico e tão pouco da minha essência. No entanto, sublinho que «não darei o outro lado da face» a alguém, que deliberadamente (ou gratuitamente cause sofrimento ou mal-estar), antes pelo contrário, defenderei como guerreira, com todas as armas ao dispor  os princípios e valores que norteiam a minha maneira de pensar e de agir. Consequentemente, arcarei, com as responsabilidades que me serão devidas pelas escolhas efectuadas. Se por um acaso, seja no início, a meio, ao mesmo no final da trajectória verificar que errei, ou me precipitei na tomada de decisão, estarei na primeira linha do campo de batalha a pedir perdão e tudo fazer  para remediar os estragos causados. Neste balanço que me parece oportuno e, por isso, digno de registo, confirmo que nem tudo correu como planeado, mas o saldo é muito positivo! E, porque considero que a vida é uma grande oportunidade, hoje não finalizarei a minha história fazendo alusão ao tempo passado, decidi  que dado o rumo dos acontecimentos o que é importante é a minha acção presente. Desejo libertar o meu pensamento das coisas insignificantes e elevar o meu espírito até Deus agradecendo-Lhe pela oportunidade de me deixar viver. Desejo que a minha alma esteja suficientemente leve para que Ele escute as minhas preces e, continue a proteger as «minhas» duas preciosidades terrenas que são os meus dois filhos. Não poderia de maneira alguma, esquecer, os «outros» dois anjinhos celestes, que Deus acolheu até à minha chegada. Lembro-me, também, de todos aqueles que eu amava e, que entretanto, partiram, para o merecido descanso. A todos os que me honrarem com a leitura deste desabafo, direi: «Aproveitem a vida. Ajudem-se uns aos outros. Não deixem nada por dizer e nada por fazer1».

António Feio, ator, 1954-2010 

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