Voltar
a certos lugares passados muitos anos é como fazer uma retrospectiva da vida. Do
presente, lentamente, recuamos muito tempo, às vezes muitos anos nas nossas memórias.
Foi assim, que aconteceu, na última terça-feira, ao cair da noite. Voltei a um
lugar do qual tenho guardado na memória muito boas recordações. Viajei no tempo
vinte e quatro anos. Já nem o lugar e, tão pouco eu, estamos iguais. O comércio de rua já não
é o mesmo que eu visitava. Algumas lojas já mudaram de ramo e outras encerraram
portas. Contudo, passar naquela artéria principal tem para mim um significado
especial. Tal, como os lugares, há pessoas que deixam em nós marcas, difíceis
de apagar ou esquecer. Nessa rua de que falo, existe uma casa centenária, onde
habita, ou habitou a pessoa a quem eu apelidei de anjo na minha vida. Emociono-me
sempre que o recordo. Foi aquele amigo com quem contei nas
horas amargas e, também, nas horas felizes. Num dia em que a saudade apertou já
escrevi um pouco sobre este ser humano especialíssimo. Eu tinha vinte anos quando
o conheci. Dia após dia, durante sete anos bebia um café com ele, em todos os
finais de tarde, a pretexto de colocarmos a conversa em dia. Em todos esses
dias felizes, existia uma boa energia durante a nossa conversa. As palavras
produzidas durante o diálogo serviam de guias para a minha vida.
Para mim, as palavras daquele homem bom, assemelham-se ao discurso de
um pai para uma filha. Existia entre nós uma relação de confiança inabalável.
Provavelmente, devido aos trinta anos que separavam as nossas idades,
tivemos algumas vezes que ignorar olhares maliciosos de pessoas, desprovidas de
princípios morais, que entendiam a nossa relação como não sendo a de simples
amizade. No presente, esse tipo de atitude, engrandece ainda mais a pessoa com a
qual tive a felicidade de me cruzar há vinte e quatro anos atrás. Nada, mas,
mesmo, nada, interferiu com a nossa amizade. Nem eu sabia, nem tão pouco ele
sabia, que aqueles dias no final de tarde eram momentos únicos e irrepetíveis.
Naquele tempo, eu achava, que aquela rotina adquirida se iria prolongar para
sempre. Mas, tal, não sucedeu. Por acontecimentos ligados às nossas vidas, aos
poucos a nossa rotina foi quebrada. Eu mudei de local de trabalho e a distância
de um lugar para outro embora fosse relativa, implicava um planeamento de
deslocação. E, assim, uma amizade profunda, resiste até aos dias de hoje,
apenas na memória. Na terça-feira, dia 26 de fevereiro, caminhava pela rua
contemplando a beleza daquele lugar e tive uma pequena esperança de me cruzar
com o meu querido amigo. Pensei para comigo, se num acaso estivéssemos frente a
frente, não sei se reconheceríamos o rosto de cada um de nós envelhecido pelo tempo. E,
também, porque a passagem do tempo dita as suas regras, os mais de trinta anos que nos separam, podem ter favorecido a partida do meu amigo para o Reino
dos Céus… se, tal, aconteceu, este ser especial acompanhar-me-á em muitos
momentos da vida, sem que eu dê pela sua presença. No entanto, seja qual for a
distância que agora nos separa, o diálogo, mesmo em silêncio, será
interminável…
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Em memória de um anjo
Em outubro de 2012, uma colega de trabalho escapou ilesa a um grave acidente de viação. Daquelas coisas que nos deixam a pensar que existe um anjo no Céu a proteger-nos. Nos meses seguintes, em algumas ocasiões, recordei o acontecimento. Não tenho dúvidas que a vida dela foi poupada porque a sua missão a Terra não está completa. Ontem, esta mesma colega, ao final da noite telefonou-me em pranto, para informar que um familiar, com apenas 10 anos tinha falecido. O menino com 10 anos não resistiu ao vírus que lhe causou de forma repentina e generalizada uma infeção no organismo. Fico sempre sem saber o que dizer nestas ocasiões. Gostava de conhecer as palavras certas para poder diminuir a dor. Estes acontecimentos, principalmente, quando envolvem crianças, são sempre muito dolorosos. Na minha insignificância não encontro explicações plausíveis para partidas em idades tão precoces. Considero que não é natural um filho partir antes dos seus progenitores. A dor daquela mãe face à morte do seu filho é com certeza dilacerante. Considero quando alguém que nos é querido morre leva consigo uma parte de nós. Para quem fica, na realidade, uma parte, também, sucumbe. Ontem, um filho foi arrancado àquela mãe e, aos restantes familiares sem que estes consigam encontrar uma razão para a perda. A dor que trespassa a alma e atinge o coração irá acompanha-los para o resto das vidas. A chamada aos Céus em idade precoce está envolta num mistério que apenas Deus conhece. Quero acreditar que Deus chama até Si as crianças para as transformar em anjos. Desejo que a partir da nova casa no Céu, este e outros meninos, ajudem a acalmar a dor no peito, dos pais e familiares que sofrem em silêncio as suas ausências.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Pequenos gestos
Ontem, 19/02/2013, em Lisboa, pela manhã, estava um verdadeiro dia
de inverno, com chuva e frio. Como é habitual de manhã, apanhei o autocarro que
me permite chegar ao local de trabalho. Não é costume falar com alguém embora
conheça pela rotina a paragem onde entram e saem os meus companheiros de
viagem. Excetua-se, neste corrupio matinal, uma companheira de viagem com a
qual, algumas vezes, troco um “bom-dia” ou falo sobre o atraso do autocarro que
nos há-de transportar até ao nosso destino. Nas cidades, as mesmas pessoas
cruzam-se, dia após dia, às vezes anos a fio, sem, nunca, aparentemente, quererem
saber umas das outras ou simplesmente se cumprimentarem. Mas, dizia, eu, ontem,
apanhei o autocarro e na paragem seguinte à minha, entrou uma senhora, que, se sentou,
no local habitual, paralelo aquele onde eu estava sentada. Como é costume, saiu
na paragem onde fica todos os dias. Pouco tempo depois de ela ter saído olhei
para o lugar vazio e verifiquei que a senhora se tinha esquecido do
guarda-chuva. Nos instantes seguintes pensei em silêncio sobre o que havia de
fazer. Pela minha mente passaram vários cenários, se devia pegar no
guarda-chuva e levá-lo comigo para no dia seguinte o entregar ou se pelo
contrário ser indiferente à situação e fazer de conta que não estava ali nenhum
objeto, sabendo, de antemão que se assim, optasse, a senhora, dificilmente, o
voltaria a recuperar. Equacionado o cenário sobre a decisão a tomar, achei por
bem fazer a diferença, dirigi-me ao motorista e perguntei-lhe se no dia seguinte
ele seria o mesmo a fazer aquela carreira. O senhor informou-me que não
conhecia a escala de trabalho para o dia seguinte. Na realidade quando me
dirigi ao motorista não tinha a intenção de deixar o guarda-chuva com ele, mas,
antes, salvaguardar-me dos olhares dos outros companheiros de viagem que em
silêncio, analisavam os meus movimentos. Saí na paragem habitual e além da
minha mala, transportava, também, o guarda-chuva pertença de outra pessoa. Quem
me conhece sabe o quanto detesto transportar guarda-chuvas, tendo, algumas
vezes, sido apanhada desprevenida em dias de intempérie. Talvez por este
motivo, hoje de manhã, quase que me esquecia do guarda-chuva em casa, valeu-me
atenção da minha família que me alertou. Como todos os dias acontece, apanhei o
autocarro no horário e na paragem habitual, na esperança que na paragem
seguinte, a senhora entrasse para lhe entregar o guarda-chuva. E, assim
sucedeu. Quando a senhora entrou confesso que estava curiosa pela sua reação. A
senhora sorriu e agradeceu a minha atenção face ao seu esquecimento, dizendo,
que o guarda-chuva era “velho” e, já o dera como perdido. Devolvi o sorriso e
disse-lhe que a “antiguidade” do guarda-chuva não era importante para a
situação. Durante os breves segundos que durou esta troca de palavras, nunca
olhei em redor, para verificar as possíveis reacções dos nossos companheiros de viagem. No entanto, estou segura que desde o momento em que a
senhora entrou no autocarro, os olhares recaíram sobre ambas. Pouco
importa se na cabeça de outras pessoas havia interpretações menos abonatórias
sobre o ato que eu pretendia levar a cabo. Se, assim, aconteceu, hoje aquelas
pessoas ao presenciarem a cena, “aprenderam” algo positivo sobre as relações
humanas. Estou convicta que algumas destas pessoas em situação similar
lembrar-se-ão deste episódio e farão o mesmo do que eu. A senhora como sempre
faz, saiu na paragem habitual, mas, antes, quebrou a rotina, dirigiu-se-me,
para desejar um bom dia, o qual devolvi na mesma intenção. Acredito que são os
pequenos gestos que fazem toda a diferença. São os pequenos gestos que as
pessoas não esquecem. Há dias em que transportamos chapéus-de-chuva de outros,
quando o sol decide brilhar nos céus e nos sorrir!
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Pescadores de homens
Todos viemos ao mundo com uma missão para cumprir. “Deus nunca dá uma cruz maior do que aquela que podemos carregar”. O nosso propósito de vida encerra desafios especiais. Acredito que em algumas ocasiões todos seremos colocados à prova. É preciso ser resiliente, quando a vida fechar uma porta, acreditar que Deus abrirá uma janela. A missão de alguns é resgatar a vida de outros. Tratam-se dos “pescadores de homens”, pessoas cujos propósitos passam por devolver a dignidade a outros que foram desumanizadas pela sociedade.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Duas caras
No
percurso de vida decerto, que já todos sentimos, que algumas pessoas que nos rodeiam têm
prazer em nos puxar o tapete. Aparentemente, esse tipo de gente utiliza
eventuais relações de poder, para de forma tirânica, perturbar o normal
funcionamento da nossa vida. Nem sempre é possível demonstrar o que está certo do
que está errado, devido às alianças que certas pessoas se estabelecem entre si, esforçando-se para manter o rumo
dos acontecimentos inalterável.
Por tendência maquiavélica são utilizados subterfúgios para dissimular uma ação pecaminosa revestindo-a
com características de bem maior. Infelizmente em certas ocasiões já tive de lidar com
este tipo de gente dissimulada. É certo que nem sempre consegui que o bem prevalecesse
sobre o mal. Quando, assim, sucede, afasto-me, desejando que o tempo se encarregue
de demonstrar a verdade dos factos. Por estratégia própria procuro manter – me afastada
destas pessoas malévolas sem nunca as perder de vista. A experiência de
vida já me demonstrou que este tipo de gente sem carácter, normalmente, são pessoas
mal resolvidas e que aguardam uma oportunidade do momento para destilarem sobre
outras o veneno que transportam na alma. Confesso que às vezes chego a
ter compaixão por este tipo de gente. Não porque me arrogue a um poder superior
mas porque lamento a ausência de princípios e valores. Também ao longo do
tempo descobri, que determinadas pessoas que gostam de rotular outras com determinadas
características (quase sempre pejorativas) muitas vezes são elas próprias detentoras desses defeitos e os mesmo assentam-lhes como uma luva. Felicito-me sempre quando a justiça
consegue desmascarar argumentos maliciosos bem elaborados. Normalmente quando
assisto a uma sentença justa por parte de alguém que tem esse poder de avaliar,
essa pessoa ganha a minha consideração e o meu respeito. Em sentido contrário, fica
o outro grupo de pessoas, as quais abomino, porque disfarçam os seus instintos
de maldade com sorrisos
sedutores.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Um Portugal distante
A minha mãe nasceu numa pequenina aldeia na Beira Alta, no meio da
natureza, entre os animais.
Antigamente a vida era dura, ela e algumas crianças desde tenra idade ajudavam os pais nos trabalhos do campo. Não eram poucas, aquelas que iam para a escola de pés descalços, enfrentando o frio, a geada e a chuva. Os livros passavam das mãos de um
irmão para outro irmão. Na escola primária numa sala de aula a mesma professora
ministrava os vários graus de ensino. Os alunos eram divididos da primeira à
quarta classe por colunas, quatro fileiras de secretárias madeira umas atrás
das outras. No inicio dos anos 60 do século XX, Portugal era um extenso e populoso mundo
rural. Nos meios rurais as noticias do país e do mundo sabiam-se através dos rádios a pilhas. Em
muitas zonas, não havia eletricidade, nem água canalizada. A água de uso diário
nas habitações era transportada da fonte (ou bica) por mulheres e crianças em
cântaros e a iluminação assegurada por candeeiros a petróleo. Como não havia
futuro nas aldeias (desemprego), muitos foram os habitantes que decidiram
emigrar para outras paragens dentro e fora de Portugal. Aos dezoito anos a
minha mãe rumou para Lisboa, sendo uma rapariga bonita pouco tempo depois
casou. Eu nasci quando ela tinha vinte anos…
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Um diálogo improvável
Desde
algum tempo que me deixei de preocupar com o tema que vou utilizar para escrever
textos. A experiência diz-me que vai haver uma noticia, uma palavra, uma imagem
ou uma determinada pessoa ou situação que me inspirará. A comprovar o que
atrás referi, ontem, sem que eu tivesse tempo para refletir, dei por mim a
conversar com alguém, que embora conheça há largos anos, seria improvável dizer
palavras que não fossem as de circunstância. Foi mesmo uma daquelas conversas que
jamais podia antever que sucedesse. Ao longo
dos muitos anos que nos conhecemos tivemos mais opiniões a dividir do
que a unir. Algumas, vezes, terei, pensado, que eu e ela teríamos de nascer de novo para desenvolver
algum tipo de afinidade…Mas, ontem, como se uma força exterior me tivesse incumbido de
determinada missão, dei comigo a soltar a língua, dando a conhecer as minhas
ideias, tentando desfazer e acalmar alguns receios daquela pessoa. Foi um diálogo
realizado em tom intimista, num clima tranquilo. No final da longa troca de
palavras, ambas concordamos que conversa tinha sido inesperada e ao mesmo tempo agradável. Para as memórias futuras
ficarão gravadas, aquela sexta-feira onde a comunhão e o respeito mútuo,
permitiu um diálogo (muito) improvável, entre duas pessoas com diferentes pontos de vista. Dificilmente, tal oportunidade se voltará no tempo a repetir...
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