quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pequenos gestos


Ontem, 19/02/2013, em Lisboa, pela manhã, estava um verdadeiro dia de inverno, com chuva e frio. Como é habitual de manhã, apanhei o autocarro que me permite chegar ao local de trabalho. Não é costume falar com alguém embora conheça pela rotina a paragem onde entram e saem os meus companheiros de viagem. Excetua-se, neste corrupio matinal, uma companheira de viagem com a qual, algumas vezes, troco um “bom-dia” ou falo sobre o atraso do autocarro que nos há-de transportar até ao nosso destino. Nas cidades, as mesmas pessoas cruzam-se, dia após dia, às vezes anos a fio, sem, nunca, aparentemente, quererem saber umas das outras ou simplesmente se cumprimentarem. Mas, dizia, eu, ontem, apanhei o autocarro e na paragem seguinte à minha, entrou uma senhora, que, se sentou, no local habitual, paralelo aquele onde eu estava sentada. Como é costume, saiu na paragem onde fica todos os dias. Pouco tempo depois de ela ter saído olhei para o lugar vazio e verifiquei que a senhora se tinha esquecido do guarda-chuva. Nos instantes seguintes pensei em silêncio sobre o que havia de fazer. Pela minha mente passaram vários cenários, se devia pegar no guarda-chuva e levá-lo comigo para no dia seguinte o entregar ou se pelo contrário ser indiferente à situação e fazer de conta que não estava ali nenhum objeto, sabendo, de antemão que se assim, optasse, a senhora, dificilmente, o voltaria a recuperar. Equacionado o cenário sobre a decisão a tomar, achei por bem fazer a diferença, dirigi-me ao motorista e perguntei-lhe se no dia seguinte ele seria o mesmo a fazer aquela carreira. O senhor informou-me que não conhecia a escala de trabalho para o dia seguinte. Na realidade quando me dirigi ao motorista não tinha a intenção de deixar o guarda-chuva com ele, mas, antes, salvaguardar-me dos olhares dos outros companheiros de viagem que em silêncio, analisavam os meus movimentos. Saí na paragem habitual e além da minha mala, transportava, também, o guarda-chuva pertença de outra pessoa. Quem me conhece sabe o quanto detesto transportar guarda-chuvas, tendo, algumas vezes, sido apanhada desprevenida em dias de intempérie. Talvez por este motivo, hoje de manhã, quase que me esquecia do guarda-chuva em casa, valeu-me atenção da minha família que me alertou. Como todos os dias acontece, apanhei o autocarro no horário e na paragem habitual, na esperança que na paragem seguinte, a senhora entrasse para lhe entregar o guarda-chuva. E, assim sucedeu. Quando a senhora entrou confesso que estava curiosa pela sua reação. A senhora sorriu e agradeceu a minha atenção face ao seu esquecimento, dizendo, que o guarda-chuva era “velho” e, já o dera como perdido. Devolvi o sorriso e disse-lhe que a “antiguidade” do guarda-chuva não era importante para a situação. Durante os breves segundos que durou esta troca de palavras, nunca olhei em redor, para verificar as possíveis reacções dos nossos companheiros de viagem. No entanto, estou segura que desde o momento em que a senhora entrou no autocarro, os olhares recaíram sobre ambas. Pouco importa se na cabeça de outras pessoas havia interpretações menos abonatórias sobre o ato que eu pretendia levar a cabo. Se, assim, aconteceu, hoje aquelas pessoas ao presenciarem a cena, “aprenderam” algo positivo sobre as relações humanas. Estou convicta que algumas destas pessoas em situação similar lembrar-se-ão deste episódio e farão o mesmo do que eu. A senhora como sempre faz, saiu na paragem habitual, mas, antes, quebrou a rotina, dirigiu-se-me, para desejar um bom dia, o qual devolvi na mesma intenção. Acredito que são os pequenos gestos que fazem toda a diferença. São os pequenos gestos que as pessoas não esquecem. Há dias em que transportamos chapéus-de-chuva de outros, quando o sol decide brilhar nos céus e nos sorrir! 

Sem comentários:

Enviar um comentário