Ontem, 19/02/2013, em Lisboa, pela manhã, estava um verdadeiro dia
de inverno, com chuva e frio. Como é habitual de manhã, apanhei o autocarro que
me permite chegar ao local de trabalho. Não é costume falar com alguém embora
conheça pela rotina a paragem onde entram e saem os meus companheiros de
viagem. Excetua-se, neste corrupio matinal, uma companheira de viagem com a
qual, algumas vezes, troco um “bom-dia” ou falo sobre o atraso do autocarro que
nos há-de transportar até ao nosso destino. Nas cidades, as mesmas pessoas
cruzam-se, dia após dia, às vezes anos a fio, sem, nunca, aparentemente, quererem
saber umas das outras ou simplesmente se cumprimentarem. Mas, dizia, eu, ontem,
apanhei o autocarro e na paragem seguinte à minha, entrou uma senhora, que, se sentou,
no local habitual, paralelo aquele onde eu estava sentada. Como é costume, saiu
na paragem onde fica todos os dias. Pouco tempo depois de ela ter saído olhei
para o lugar vazio e verifiquei que a senhora se tinha esquecido do
guarda-chuva. Nos instantes seguintes pensei em silêncio sobre o que havia de
fazer. Pela minha mente passaram vários cenários, se devia pegar no
guarda-chuva e levá-lo comigo para no dia seguinte o entregar ou se pelo
contrário ser indiferente à situação e fazer de conta que não estava ali nenhum
objeto, sabendo, de antemão que se assim, optasse, a senhora, dificilmente, o
voltaria a recuperar. Equacionado o cenário sobre a decisão a tomar, achei por
bem fazer a diferença, dirigi-me ao motorista e perguntei-lhe se no dia seguinte
ele seria o mesmo a fazer aquela carreira. O senhor informou-me que não
conhecia a escala de trabalho para o dia seguinte. Na realidade quando me
dirigi ao motorista não tinha a intenção de deixar o guarda-chuva com ele, mas,
antes, salvaguardar-me dos olhares dos outros companheiros de viagem que em
silêncio, analisavam os meus movimentos. Saí na paragem habitual e além da
minha mala, transportava, também, o guarda-chuva pertença de outra pessoa. Quem
me conhece sabe o quanto detesto transportar guarda-chuvas, tendo, algumas
vezes, sido apanhada desprevenida em dias de intempérie. Talvez por este
motivo, hoje de manhã, quase que me esquecia do guarda-chuva em casa, valeu-me
atenção da minha família que me alertou. Como todos os dias acontece, apanhei o
autocarro no horário e na paragem habitual, na esperança que na paragem
seguinte, a senhora entrasse para lhe entregar o guarda-chuva. E, assim
sucedeu. Quando a senhora entrou confesso que estava curiosa pela sua reação. A
senhora sorriu e agradeceu a minha atenção face ao seu esquecimento, dizendo,
que o guarda-chuva era “velho” e, já o dera como perdido. Devolvi o sorriso e
disse-lhe que a “antiguidade” do guarda-chuva não era importante para a
situação. Durante os breves segundos que durou esta troca de palavras, nunca
olhei em redor, para verificar as possíveis reacções dos nossos companheiros de viagem. No entanto, estou segura que desde o momento em que a
senhora entrou no autocarro, os olhares recaíram sobre ambas. Pouco
importa se na cabeça de outras pessoas havia interpretações menos abonatórias
sobre o ato que eu pretendia levar a cabo. Se, assim, aconteceu, hoje aquelas
pessoas ao presenciarem a cena, “aprenderam” algo positivo sobre as relações
humanas. Estou convicta que algumas destas pessoas em situação similar
lembrar-se-ão deste episódio e farão o mesmo do que eu. A senhora como sempre
faz, saiu na paragem habitual, mas, antes, quebrou a rotina, dirigiu-se-me,
para desejar um bom dia, o qual devolvi na mesma intenção. Acredito que são os
pequenos gestos que fazem toda a diferença. São os pequenos gestos que as
pessoas não esquecem. Há dias em que transportamos chapéus-de-chuva de outros,
quando o sol decide brilhar nos céus e nos sorrir!
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