Já
houve ocasiões em que pensei ser benéfico para a minha tranquilidade interior escrever
sobre o meu percurso de vida. Levantei-me da secretária, abri as janelas para
o ar entrar na sala, na tentativa de purificar o ambiente, como este
gesto, permitisse às ideias fluírem com maior naturalidade. Ainda para facilitar,
neste exercício de introspeção, organizei a vida por décadas. Afinal, pensei, não,
seriam, assim, tantas as memórias… Estava, no entanto, enganada. Dei conta, mal
comecei a escrever que, afinal, tinha quatro décadas de histórias para revisitar. A tarefa que inicialmente pareceu fácil, estava
revestida de complexidade. Uma a uma, remexi nas memórias passadas, procurando
nos ínfimos confins tudo o que fosse motivo de registo. Neste exercício de
pesquisa dei conta, que, precisava de tempo, para transpor para o
branco da folha, tantos episódios marcantes. Precisava de tempo mental que permitisse
prosseguir com o meu desejo, de modo a não desvirtuar tanto material precioso. Verifiquei
neste exercício de introspeção que é sempre fácil visitar as memórias felizes. Mas
porque o percurso de vida é feito do somatório dos dias, as memórias difíceis,
também, povoam a mente. No meu caso pessoal tenho a tendência para
seccionar tudo. Mentalmente, arrumo as memórias difíceis, separadas das boas, mas,
não as afastando demasiado umas das outras, preferindo colocá-las lado a lado, em locais
diferentes. As memórias difíceis, tento só visitá-las em raras ocasiões, apenas nas
suficientes, para não me esquecer das aprendizagens dos momentos. Suspeito que
o meu arquivo mental de memórias se deve assemelhar a uma espécie de ponte,
onde os pilares são o conjunto das muitas recordações. Assim,
na minha ponte mental, tenho pilares construídos com as boas recordações,
pilares com as más recordações e, também, pilares com as recordações intermédias.
O que são pilares das recordações intermédias? Agora que penso no assunto, considero
que as recordações intermédias permitem os ciclos de viragem, no percurso de
vida de cada pessoa. As recordações intermédias contêm as várias possibilidades
de análise que permitem dar o passo seguinte. Não existe uma ordem específica
entre um ciclo positivo e outro negativo ou vice-versa. Considero, no entanto, que
as boas recordações tendem a permanecer mais tempo no nosso horizonte cognitivo
por serem uma espécie de oásis que possibilitam acalentar a esperança, quando
tudo à volta se assemelha a um deserto de areia sem fim. Nos momentos
de transição entre ciclos não esqueço que os episódios de vida cujas experiências
foram negativas, podem, afinal, serem preciosos ensinamentos, para
precaver no presente, as futuras consequências dos nossos actos.
sexta-feira, 29 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
Sonho da saudade
Sonhei
contigo! Entraste no meu descanso sem pedir licença e como por magia viajamos
juntos para um tempo e um espaço que não identifico. No sonho eramos jovens.
A recordação do sonho surge-me na memória de forma fragmentada e difusa. A sensação
de estar junto de ti, pareceu-me, no entanto real. Desejei prolongar o estado de
êxtase em que me encontrava. Nos dias seguintes, procurei escrever, encontrar as palavras certas,
que traduzissem as sensações sentidas. No entanto, sempre que comecei a escrever,
as frases não terminaram, não traduziram a representação visual,
então, desisti de juntar as palavras. Quis nas noites seguintes voltar a sonhar, viajar para esse tempo de felicidade, mas não consegui. Na
realidade eu trocava este tempo em que vivemos por aquele onde estivemos. O sonho transformou-se numa doce memória
que há muito me habituei a guardar no baú das recordações.
Tenho
a certeza que uma noite destas, voltarás de novo a entrar no meu sossego e
sem pedires licença, voltaremos a viajar para um tempo e lugar onde só tu mais eu
podemos ficar... até lá, sonho
acordada, com a lembrança da tua
saudade ser a minha própria espera.
sábado, 16 de março de 2013
Diário do meu país empobrecido
Como
cidadã portuguesa junto-me às vozes de todos os meus compatriotas que se erguem
contra a brutal austeridade na nossa sociedade. Não me junto aos
grupos com interesses instalados. Não concordo com os vários subsistemas que
existem na sociedade portuguesa sejam de que espécie forem. Não estou com
aqueles que afirmam que as “coisas” têm de mudar e que o Estado não aguenta
tanta despesa, mas, na hora do aperto do cinto o corte não toque nos interesses
dos próprios. Não gosto dos corporativistas que subvertem os vários direitos da
Democracia em benefício próprio. Uma percentagem substantiva de portugueses já
não aguenta mais cortes na despesa. Estou ao lado de todos os meus conterrâneos
que perderam o emprego, esgotaram as prestações sociais e no presente vivem da
caridade das Instituições Sociais. Muitas destas pessoas há muito pouco tempo
eram mencionadas nas estatísticas como pertencentes à classe média. Muitos
portugueses estão a engrossar a classe dos indigentes. O sobre endividamento das
famílias portuguesas cresce de dia para dia. Há agregados familiares que já não
conseguem pagar a prestação da habitação, não tem dinheiro para alimentação e tão
pouco para a educação dos filhos. Não basta virem para os órgãos de comunicação
social uns quantos “iluminados” afirmar que não há mal algum um licenciado
limpar matas… duvido é que existam florestas suficientes para ocupar todos os
licenciados que estão no desemprego. E, pergunto, se o lugar de “limpador de
matas” for ocupado por licenciados o que fazer aos outros cidadãos que têm apenas
o ensino o secundário ou menos habilitações escolares e, que, também, estão nas
fileiras do desemprego? Agradeço que haja bom senso nas palavras dos vários gurús
da economia que orbitam pela comunicação social porque suspeito que estas
pessoas não sejam conhecedoras da real situação social em que o país
mergulhou. Há um exército de portugueses que sobrevive diariamente sem
esperança no futuro. É preciso de uma vez por todas os governantes de Portugal
deixarem de afirmar que o país vai no bom caminho. Não, não, vai no bom
caminho, os portugueses estão todos os dias a caminhar para o abismo! Há o
perigo de haver uma revolta social sem precedentes em Portugal! Afirmam –se pela
comunicação social absurdos como baixar o salário mínimo em Portugal para
tornar a economia mais competitiva! Gostava que estas pessoas explicassem como
pode alguém na sociedade portuguesa sobreviver com € 431,65 mensais, depois de deduzidos
impostos? Pessoas que se atrevem a falar e a pensar neste tipo de registo auferem
mensalmente salários no minimo 10 vezes superiores! O sistema económico neoliberal,
não confere direito no trabalho, nem tão pouco direitos à pessoa humana. É
o lucro pelo lucro, exploração da massa trabalhadora até à exaustão. O sistema
está minado e tem que levar uma valente volta na redução dos muitos privilégios
que existem nas várias classes dominantes. Não pode haver sistemas de saúde,
justiça diferentes de português para português. Não podem uns pagarem com os
seus impostos os benefícios que apenas outros usufruem. Defendo uma sociedade solidária
com os mais desfavorecidos, mas não posso pactuar com medidas económicas e politicas
que castigam sempre os mesmos!
quinta-feira, 14 de março de 2013
A soma dos dias
sábado, 9 de março de 2013
Soltar as amarras
sábado, 2 de março de 2013
Onde é que isto vai parar?
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