Já
houve ocasiões em que pensei ser benéfico para a minha tranquilidade interior escrever
sobre o meu percurso de vida. Levantei-me da secretária, abri as janelas para
o ar entrar na sala, na tentativa de purificar o ambiente, como este
gesto, permitisse às ideias fluírem com maior naturalidade. Ainda para facilitar,
neste exercício de introspeção, organizei a vida por décadas. Afinal, pensei, não,
seriam, assim, tantas as memórias… Estava, no entanto, enganada. Dei conta, mal
comecei a escrever que, afinal, tinha quatro décadas de histórias para revisitar. A tarefa que inicialmente pareceu fácil, estava
revestida de complexidade. Uma a uma, remexi nas memórias passadas, procurando
nos ínfimos confins tudo o que fosse motivo de registo. Neste exercício de
pesquisa dei conta, que, precisava de tempo, para transpor para o
branco da folha, tantos episódios marcantes. Precisava de tempo mental que permitisse
prosseguir com o meu desejo, de modo a não desvirtuar tanto material precioso. Verifiquei
neste exercício de introspeção que é sempre fácil visitar as memórias felizes. Mas
porque o percurso de vida é feito do somatório dos dias, as memórias difíceis,
também, povoam a mente. No meu caso pessoal tenho a tendência para
seccionar tudo. Mentalmente, arrumo as memórias difíceis, separadas das boas, mas,
não as afastando demasiado umas das outras, preferindo colocá-las lado a lado, em locais
diferentes. As memórias difíceis, tento só visitá-las em raras ocasiões, apenas nas
suficientes, para não me esquecer das aprendizagens dos momentos. Suspeito que
o meu arquivo mental de memórias se deve assemelhar a uma espécie de ponte,
onde os pilares são o conjunto das muitas recordações. Assim,
na minha ponte mental, tenho pilares construídos com as boas recordações,
pilares com as más recordações e, também, pilares com as recordações intermédias.
O que são pilares das recordações intermédias? Agora que penso no assunto, considero
que as recordações intermédias permitem os ciclos de viragem, no percurso de
vida de cada pessoa. As recordações intermédias contêm as várias possibilidades
de análise que permitem dar o passo seguinte. Não existe uma ordem específica
entre um ciclo positivo e outro negativo ou vice-versa. Considero, no entanto, que
as boas recordações tendem a permanecer mais tempo no nosso horizonte cognitivo
por serem uma espécie de oásis que possibilitam acalentar a esperança, quando
tudo à volta se assemelha a um deserto de areia sem fim. Nos momentos
de transição entre ciclos não esqueço que os episódios de vida cujas experiências
foram negativas, podem, afinal, serem preciosos ensinamentos, para
precaver no presente, as futuras consequências dos nossos actos.
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