sexta-feira, 29 de março de 2013

As pontes da memória


Já houve ocasiões em que pensei ser benéfico para a minha tranquilidade interior escrever sobre o meu percurso de vida. Levantei-me da secretária, abri as janelas para o  ar entrar na sala, na tentativa de purificar o ambiente, como  este gesto, permitisse às ideias  fluírem com maior naturalidade. Ainda para facilitar, neste exercício de introspeção, organizei a vida por décadas. Afinal, pensei, não, seriam, assim, tantas as memórias… Estava, no entanto, enganada. Dei conta, mal comecei a escrever que, afinal, tinha quatro décadas de histórias para revisitar. A tarefa que inicialmente pareceu fácil,  estava revestida de complexidade. Uma a uma, remexi nas memórias passadas, procurando nos ínfimos confins tudo o que fosse motivo de registo. Neste exercício de pesquisa dei conta, que,  precisava de tempo, para transpor para o branco da folha, tantos episódios marcantes. Precisava de tempo mental que permitisse prosseguir com o meu desejo, de modo a não desvirtuar tanto material precioso. Verifiquei neste exercício de introspeção que é sempre fácil visitar as memórias felizes. Mas porque o percurso de vida é feito do somatório dos dias, as memórias difíceis, também, povoam  a  mente. No meu caso pessoal tenho a tendência para seccionar tudo. Mentalmente, arrumo as memórias difíceis, separadas das boas, mas, não as afastando demasiado umas das outras, preferindo colocá-las lado a lado, em locais diferentes. As memórias difíceis, tento só visitá-las em raras ocasiões, apenas nas suficientes, para não me esquecer das aprendizagens dos momentos. Suspeito que o meu arquivo mental de memórias se deve assemelhar a uma espécie de ponte, onde os pilares são o conjunto das muitas recordações. Assim, na minha ponte mental, tenho pilares construídos com as boas recordações, pilares com as más recordações e, também, pilares com as recordações intermédias. O que são pilares das recordações intermédias? Agora que penso no assunto, considero que as recordações intermédias permitem os ciclos de viragem, no percurso de vida de cada pessoa. As recordações intermédias contêm as várias possibilidades de análise que permitem dar o passo seguinte. Não existe uma ordem específica entre um ciclo positivo e outro negativo ou vice-versa. Considero, no entanto, que as boas recordações tendem a permanecer mais tempo no nosso horizonte cognitivo por serem uma espécie de oásis que possibilitam acalentar a esperança, quando tudo à volta se assemelha a um deserto de areia sem fim. Nos momentos de transição entre ciclos não esqueço que os episódios de vida cujas experiências foram negativas, podem, afinal, serem  preciosos ensinamentos, para precaver no presente, as futuras consequências dos nossos actos.

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