quinta-feira, 7 de junho de 2012

Memórias de um passado


É costume dizer-se, que depois de casa roubada, trancas à porta. Depois da devastação que irrompeu por portas a dentro, como de um furacão, se tratasse, deixando a marca da maldade, sobre um património pessoal, colocar trancas, nada resolverá, nem tão pouco restituirá as marcas de um passado. A minha casa de infância, foi a fiel guardiã das vivências da família, o último bastião, que corajosamente, enfrentou os espíritos desprovidos, de gentes cruéis. Não consigo imaginar o que move pessoas, a entrar em casas alheias, para cerrar fechaduras, arrancar tampos de cozinha, partir loiça sanitária e danificar canos de água. O vandalismo de que foi vitima a minha casa de infância, é difícil de apagar da memória. Quando me desloquei ao local, no sábado, 2 de Junho, tive a plena consciência que aquela seria a última oportunidade de retirar da casa, o que quer que fosse. Não interessa colocar em ênfase o valor dos objetos destruídos, interessa pois, colocar em evidência, as memórias que lá se encontravam: peças de loiça, pequenos objetos de decoração, por não se revestirem de valor, passaram despercebidas ao olhar dos larápios. No meio da tragédia, conseguiu-se recuperar, os álbuns de fotografias, as nossas memórias em papel, de muitos anos e de momentos irrepetíveis. Conseguiu-se, também, recuperar correspondência antiga e alguns livros. No momento, em que eu colocava em sacos os objetos recuperados, em pensamento, agradeci, àquela casa, que de alguma forma transcendente, conseguiu proteger todo um património familiar, até eu chegar. Nas horas seguintes, estive a limpar, a catalogar os objetos carregados de simbolismo, senti, que de alguma forma, a minha herança familiar havia sido preservada.

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