Hoje pela manhã vi um menino de mãos dadas com os seus pais. Ele não teria mais de três anos de idade. O que me chamou a atenção não foi a
naturalidade do ato. O que se salientou daquela imagem, além da natural alegria do menino, foi o facto, dos pais, ambos, serem invisuais. Eram 8
horas da manhã e, possivelmente, os pais estariam a levá-lo para o
infantário. A mãe caminhava com a bengala branca na mão direita e o pai levava
a bengala branca na mão esquerda, no meio estava o menino. O menino de cabelo
castanho aos caracóis estava adequadamente vestido para a temperatura de
inverno. Fiquei nos minutos seguintes a pensar que nem a mãe e tão pouco o
pai lhe tinham visualizado o rosto. Creio no entanto que ambos conhecem
bem as suas feições. Acho que na falta de um sentido, tão importante
como o é da visão, os outros sentidos, devem, em substituição, ficar mais desenvolvidos. Não sei o que é viver na escuridão, mas creio que
não será nada fácil, principalmente, para alguém que não tenha nascido invisual
e, que algum dia, tenha contactado com as cores, com as formas dos elementos que
nos rodeiam. Bem sei que o ser humano tem enormes capacidades de adaptação ao
meio para sobreviver… no entanto, para vencer obstáculos quotidianamente, é
necessário possuir uma tremenda força interior. Aqueles pais num determinado
momento das suas vidas optaram por assumir a responsabilidade de criar um
filho. Pareceu-me pela maneira como caminhavam tinham tudo sob controlo,
sabiam onde estavam e para onde iam. Não fosse a bengala branca chamar-me à
atenção ter-me-iam passado despercebidos no frenesim matinal das ruas da
cidade. E, nós, os chamados “normais” que temos a possibilidade de utilizar
todos os sentidos em todas as nossas dimensões da vida, será que fazemos o
devido usufruto dessa preciosidade? Será que damos o merecido valor por
possuirmos: visão, audição, tacto, olfacto e paladar? Estou convicta que haverá
seres humanos que jamais perderam um minuto para pensar na riqueza que é possuírem os cinco sentidos. São os cinco sentidos que nos permitem que o
dia-a-dia seja simples. Existe uma máxima antiga que não posso esquecer:
“estamos feitos mas não estamos acabados” ninguém sabe nada sobre o seu futuro
e de um dia para o outro algo que julgamos tão natural e que tomamos por legitimo
ou garantido pode num "instante" acabar. Valerá a pena pensar no assunto…
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