segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre o mar e azul do céu

Quando olho aquela fotografia são imensas as recordações que me percorrem a mente como de uma película cinematográfica se tratassem. Estou perante uma linda menina nos seus primeiros anos da idade adulta mas cujo rosto espelha a tristeza da alma. Ela é tão delicada. Tão frágil. Lembro-me em particular daquele momento e daquela jovem menina porque há muito que a acompanho. Destaco a ingenuidade própria de uma idade em que o tempo não conta atendendo aos longos anos de vida que se tem pela frente. Aquela jovem em particular era uma sonhadora mas cujo sonho ou sonhos muito rapidamente se desvaneceram e a vida empurrou-a para um arco-íris de cores esbatidas. É triste o seu olhar. Mas, toda ela está envolta numa resplandecente beleza. Conheço-a bem por isso convictamente afirmo que naquela alma moravam sentimentos, princípios e valores que aos poucos foram deixando de residir para grande lamento da própria e, também, da minha parte que a tudo assistiu sem que nada pudesse fazer.
 A fotografia está toda ela emoldurada numa paisagem aprazível. Ao fundo deslumbra-se um mar calmo que se confunde com o azul do céu quase sem nuvens.
Ela está sentada num muro sobre a praia olhando para o fotógrafo mas não sorri. Veste uma saia de cores garridas e uma t-shirt branca. O seu cabelo ganha um brilho especial quando o sol lhe toca o dourado dos caracóis. Tem uns brincos de cor vermelha a condizer com uma bandolete que lhe embeleza o cabelo. Mas, é, efectivamente, o seu olhar que me prende a atenção,  triste. As suas mãos seguram uma pequena mala e estão incomodadas com aquele momento. A jovem rapariga não queria sentir aquele embargo na garganta que lhe rouba as palavras. Nem tão pouco queria sentir a ligeira dor que a incomoda no peito. Ela era livre. Ela queria apenas ser feliz. E, a sua felicidade, a sua confiança haviam sido quebradas. E, ela, eu sei, não, consegue conviver com a quebra de laços. Há laços que não se podem quebrar. Ela sabia que aquele instante da fotografia seria único e jamais se iria repetir no tempo e no espaço. Aquela  fotografia retratava não um adeus mas as várias dimensões do adeus. Estou quase certa que no presente ela pouco ou nada lamentará o caminho que seguiu. Todas as vezes que olho aquela imagem lamento pelo momento e quero abraçá-la numa vã tentativa de lhe diminuir a dor do sofrimento.  Com as minhas mãos devia ter-lhe acariciado a cabeça e ajudado a limpar as lágrimas que não lhe caem no rosto mas que lhe afogam a alma. Ela é tão linda! Ela é tão pura! Ela ficou junto ao mar e ao azul do céu para sempre…

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