Uma parte das férias ainda é passada na
casa bem ao sul de Portugal. Todos os anos desde há três gerações, pelo menos
dez dias estão destinados ao sol. Quando o calor aperta, o clima, a água e as
gentes algarvias, convidam à viagem por autoestrada que não demora mais de três
horas. À chegada depois de se descarregarem as bagagens o ritual das limpezas
repete-se ano após ano. Abrir as janelas da casa para arejar, limpar a poeira
do chão que se vai acumulando ao longo dos restantes meses do ano. Por incrível
que pareça a sensação de chegar à pequena povoação é sempre fascinante. Já se
passaram anos desde a primeira vez que nos deram a conhecer o maravilhoso
local. São muitas as histórias dignas de constarem num livro de viagens ou
mesmo de emoções. Sim, porque a minha avó materna, sendo uma nata contadora de
histórias, podia escrever muitos livros de temas bem diferentes. Sempre ouvi a
minha avó dizer que escrevia para que as gerações futuras pudessem saber sobre
as vivências dos antepassados. Acho que a minha avó decidiu relatar muitos dos
seus momentos porque lamentava o facto dela em criança não ter sido
suficientemente fotografada. Convínhamos que há cinquenta anos atrás as
máquinas de fotografar não eram do domínio público. Quem quisesse tirar
uma foto teria que se deslocar a uma loja para o efeito. As câmaras
instantâneas da Polaroid só se tornaram populares nos países desenvolvidos a partir dos anos setenta do século XX. A novidade de fotografar sempre que apetecesse, também chegou a
Portugal em finais dos anos setenta e muito por culpa dos emigrantes. Deve-se a
muitos dos compatriotas portugueses que partiram para outras paragens a
divulgação das novidades electrónicas e de muitas outras espécies. A
minha avó lamenta o facto de os pais não terem investido suficientemente nesse
tipo de registo documental. Portanto ela atribui um significado muito especial
a todas as fotos que possui desde o seu nascimento, da infância, da passagem
pela escola primária, da adolescência. Não se precipitem a julgar a minha avó
como sendo uma pessoa excêntrica. Se eu aplicar a palavra excêntrica para
definir a minha avó é pela forma dela encontrar soluções não-convencionais para
resolver as situações que nos surgem e nunca pela maneira de vestir ou falar. (continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário