terça-feira, 20 de agosto de 2013

AS FÉRIAS – parte VI : os visitantes estrangeiros


É importante chegar cedo à praia  para escolhermos os melhores lugares para as toalhas. O nosso quinhão de areia deve preferencialmente ter uma vista privilegiada para o mar sem a obstrução de algum chapéu-de-sol. A primeira linha de praia confere o privilégio de eu e o meu irmão ficarmos mais tempo dentro de água sob o olhar vigilante da mãe que não consegue aproveitar o sol enquanto nós não sairmos. O Miguel ainda não sabe nadar coisa que inquieta os pais, porque tem a mania de se atirar às ondas. Este ano os pais vão voltar a inscrevê-lo nas aulas de natação com o compromisso dele ao fim-de-semana se levantar cedo e não faltar. Eu penso frequentar as aulas de ginástica rítmica numa colectividade desportiva perto da nossa residência. Terei que ter alguns cuidados porque em Maio sofri uma lesão no pé  que me obrigou a ter sessões de fisioterapia. Na praia a mãe e o pai têm uma estratégia para impedir as possíveis brigas entre mim e o Miguel vão alternando a posição das nossas toalhas com as deles. No entanto a mãe tem sempre uma surpresa quando sai da água e chega às toalhas porque nunca estão na posição em que ela as deixou porque tanto eu como o Miguel gostamos de ficar lado a lado. Sorrio. Como sempre acontece no Verão as praias algarvias enchem-se de visitantes estrangeiros e a nossa também não é disso excepção. No areal há um burburinho de línguas que se assemelha à Torre de Babel. Fixo a minha atenção num grupo de franceses. Eu e a mãe muitas vezes brincámos uma com a outra sobre a proveniência dos turistas. Nunca se ouviu falar tanto francês como este ano, diz a mãe. O pai justifica dizendo que tal pode  ser consequência dos conflitos sociais que estão a ocorrer no norte de África. Algumas estâncias turísticas na Tunísia e, principalmente, no Egipto devem este ano registar prejuízos significativos com esta mudança de rota. Com o mal dos outros quem lucra é a economia portuguesa. A par dos muitos franceses também se deslumbram nas ruas e nas praias muitos espanhóis. Os “nuestros hermanos” e os “franceses dos croissants” parecem gostar muito de Portugal, ainda bem! Este ano os ingleses e os alemães aparentemente estão em minoria, pelo menos na zona do barlavento algarvio onde nos encontramos. Eu e a mãe temos algumas brincadeiras em relação aos visitantes estrangeiros. Às vezes as duas deitadas nas toalhas “disfarçadamente” tentamos escutar as suas conversas e perceber se os seus hábitos são muito distintos dos nossos. Passados alguns dias já conhecemos as rotinas dos nossos vizinhos de praia e se por acaso algum se atrasa comentamos uma com a outra o que terá acontecido ao “Napoleão Bonaparte” ou ao “D. Quixote"  consoante seja a nacionalidade para não ter chegado ainda ao areal. Até tenho uma história engraçada para contar sobre o que aconteceu há dias quando a mãe se dirigiu à peixaria de uma grande superfície comercial para comprar o almoço. Devo primeiro referir que eu e a mãe temos algumas semelhanças  com os povos do norte da Europa, ambas temos olhos e cabelos claros, o que pode às vezes baralhar a questão da nacionalidade. Dizia eu que a mãe chegou ao balcão da dita secção de peixe e a senhora que atendia os clientes não reconhecendo a nacionalidade da mãe, começou por a cumprimentar em sotaque algarvio: - “Good morning!”, seguido de “may I help you?” - ao que a mãe respondeu a sorrir que ela podia falar em português porque percebia. Mas o melhor da situação foi a conversa mantida com a outra colega que arrumava o peixe na bancada que ao magoar-se com uma caixa, proferiu um palavrão e, quando a mãe respondeu em português à colega que atendia ao balcão ficou deveras incomodada e perguntou:
- Você ouviu o que eu disse? Ao que a mãe respondeu afirmativamente. Essa resposta mais a envergonhou que além do pedido de desculpas prontificou-se em ir  à câmara frigorífica buscar os peixes mais frescos para vender e com este gesto compensá-la pelo seu deslize verbal. A mãe só ria com o sucedido ao mesmo tempo que dizia à senhora: - Deixe lá isso! Esqueça o assunto! De volta a casa a fim de prepararmos o almoço riamos a bom rir com a situação. E, garantidamente naquela refeição foi servido o peixe mais fresco de todo o Algarve!

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