quarta-feira, 21 de agosto de 2013

AS FÉRIAS – parte VII : Amigos para sempre


É quase sempre à hora das refeições que o Sr. Simão é recordado. Principalmente quando as sardinhas e os carapaus saem do fogareiro a carvão e são colocadas no prato. O Sr. Simão adorava comer as sardinhas no pão ao mesmo tempo que elogiava o petisco. Sempre que a avó está connosco costuma dizer que este velhote ficará para sempre no coração de todos porque era muito simpático! E, acrescenta quando a hora dele chegou, ele não disse adeus, apenas sorriu, porque o adeus é para quem morre e nós prometemos ser sempre amigos. O Sr. Simão partiu em Junho de 2010, um mês antes de completar a bonita idade de 85 anos. Ele possivelmente é uma das provas que trabalhar afinal dá saúde. Até completar os 81 anos de vida  esteve sempre ao serviço dos paroquianos em Almada; sendo o primeiro chegar para abrir as portas da Igreja Nossa Sra. da Assunção (Igreja Nova) e nunca tinha hora de saída. Também não tinha relação de parentesco com a nossa família mas era como tivesse. A relação de afeto que estabeleceu connosco e, principalmente com a minha tia Isabel, durou toda a vida; era padrinho dela por batismo, mas a relação de ambos só é comparável ao amor de um pai para uma filha e vice-versa. Tal amor puro e verdadeiro só acontece quando duas almas se tocam. Reza a história que o Sr. Simão era visita diária da casa dos meus bisavôs por não ter família em Almada e desde cedo criou laços profundos com a mais pequenita da família. Conta-se quando  a campainha tocava a tia Isabel corria de imediato para a porta da entrada na expectativa de ganhar uma qualquer guloseima. Diz-se que foi a tia Isabel que o escolheu para padrinho. Foi o Sr. Simão que apresentou o Algarve às duas irmãs e elas homenagearam-no elegendo a sua terra natal como o melhor destino de férias de Portugal. Manteve sempre uma vontade de viver até ao limite das suas forças, mesmo quando as pernas já teimavam em não obedecer às ordens do seu espírito jovem. As doenças só se agravaram ou apareceram no momento em que deixou de trabalhar. É ao Sr. Simão que as duas irmãs entregam simbolicamente “as chaves da casa do Algarve” quando regressam a Lisboa. Lembram-se de vos contar no início destas crónicas de férias que houve um dia em que uns artistas não convidados entraram na casa, o que na altura não vos disse foi que para além da sujidade e da desarrumação eles não levaram absolutamente nada! Termino esta crónica com a frase que o Sr. Simão não se cansava de repetir às duas irmãs quando elas eram crianças e mesmo em idade adulta: – “Eu sou o Simão Leal Figueiras e moro na Rua das Amendoeiras” – Na realidade não morava, o nome da rua é outro, mas na terra que o viu nascer outrora existiam campos cobertos com a linda a flor da amêndoa. As amendoeiras sendo as primeiras árvores a florescer no fim do inverno, o nome em hebraico significa “aquele que desperta”. (continua)

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