É quase sempre à hora das refeições que o Sr. Simão é recordado. Principalmente
quando as sardinhas e os carapaus saem do fogareiro a carvão e são colocadas no
prato. O Sr. Simão adorava comer as sardinhas no pão ao mesmo tempo que elogiava o
petisco. Sempre que a avó está connosco costuma dizer que este velhote ficará
para sempre no coração de todos porque era muito simpático! E, acrescenta quando
a hora dele chegou, ele não disse adeus, apenas sorriu, porque o adeus é para
quem morre e nós prometemos ser sempre amigos. O Sr. Simão partiu em Junho de
2010, um mês antes de completar a bonita idade de 85 anos. Ele possivelmente é uma
das provas que trabalhar afinal dá saúde. Até completar os 81 anos de vida
esteve sempre ao serviço dos paroquianos em Almada; sendo o primeiro chegar
para abrir as portas da Igreja Nossa Sra. da Assunção (Igreja Nova) e nunca tinha
hora de saída. Também não tinha relação de parentesco com a nossa família mas
era como tivesse. A relação de afeto que estabeleceu connosco e, principalmente
com a minha tia Isabel, durou toda a vida; era padrinho dela por batismo, mas a
relação de ambos só é comparável ao amor de um pai para uma filha e vice-versa.
Tal amor puro e verdadeiro só acontece quando duas almas se tocam. Reza a história
que o Sr. Simão era visita diária da casa dos meus bisavôs por não ter família em
Almada e desde cedo criou laços profundos com a mais pequenita da família. Conta-se
quando a campainha tocava a tia Isabel corria de imediato para a porta da
entrada na expectativa de ganhar uma qualquer guloseima. Diz-se que foi a tia
Isabel que o escolheu para padrinho. Foi o Sr. Simão que apresentou o Algarve
às duas irmãs e elas homenagearam-no elegendo a sua terra natal como o melhor destino
de férias de Portugal. Manteve sempre uma vontade de viver até ao limite das
suas forças, mesmo quando as pernas já teimavam em não obedecer às ordens do
seu espírito jovem. As doenças só se agravaram ou
apareceram no momento em que deixou de trabalhar. É ao Sr. Simão que as duas
irmãs entregam simbolicamente “as chaves da casa do Algarve” quando regressam a
Lisboa. Lembram-se de vos contar no início destas crónicas de férias que houve
um dia em que uns artistas não convidados entraram na casa, o que na altura não
vos disse foi que para além da sujidade e da desarrumação eles não levaram
absolutamente nada! Termino esta crónica com a frase que o Sr. Simão não se cansava
de repetir às duas irmãs quando elas eram crianças e mesmo em idade adulta: – “Eu
sou o Simão Leal Figueiras e moro na Rua das Amendoeiras” – Na realidade não morava,
o nome da rua é outro, mas na terra que o viu nascer outrora existiam campos cobertos
com a linda a flor da amêndoa. As amendoeiras sendo as primeiras árvores a
florescer no fim do inverno, o nome em hebraico significa “aquele que
desperta”. (continua)
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