segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AS FÉRIAS – parte IV: Uma noite sem dormir

De regresso a casa o avô trazia  na mão sacos com alguns alimentos para confortarem as barrigas vazias. Embora a avó não tivesse realizado o milagre da limpeza tinha ficado bem perto de o conseguir. Depois de arrumada a casa de férias começava a ter um melhor aspecto. Embora as inquietações não tivessem ainda terminado pois havia que minimizar o risco de intrusão. O avô conhecendo as esquisitices da avó também tinha comprado novos pratos, copos e talheres. A refeição foi rápida e ligeira. Ficaram gratos por terem trazido na viagem a carne que tinha sobrado da refeição do dia anterior, naquela noite deu-lhes muito jeito. A avó tinha aproveitado a ausência do avô e dos filhos para ligar à tia Isabel para lhe dar conhecimento do ocorrido e, também, para combinarem entre elas o que podia ser deitado fora. A avó e a tia Isabel sentiram que as suas privacidades tinham sido devassadas por terceiros, ambas são muito ciosas do recheio da casa. Não lhes interessa o valor real dos pertences, na realidade para as duas irmãs o importante é preservarem a história, consideram-se fieis guardiãs daquele legado e de tudo fazem para manterem viva a memória daquele que foi mais do que um padrinho de baptismo da tia Isabel. Naquela casa centenária nasceu no início dos anos trinta do século XX o Sr. Simão e por lá viveu antes de partir para Lisboa na procura de melhores condições de vida. Mesmo à distância o Sr. Simão adorava a terra natal e a sua pequena casa que herdara dos pais. Findo o jantar o avô Manel carregou na bagageira do automóvel tudo o que foi tocado ou utilizado por terceiros sem autorização para depositar no contentor do lixo: uma poltrona de pano, uma cadeira de cozinha cujo tampo fora cortado com auxilio de uma faca, cobertores, lençóis, toalhas de banho, utensílios de cozinha. De novo em casa os avós prepararam as camas para dormir e recuperarem as energias depois de um dia com muito stress. Sabem como os avós improvisaram a protecção da casa? São exactamente nestes momentos de recordações que me congratulo por ter nascido no seio desta família. O avô barrou a porta das traseiras com o cabo de uma esfregona que encontrou e considerou ser obstáculo suficiente forte para deter uma eventual entrada de intrusos. A avó parece que não ficou muito convencida sobre a eficácia e terá tentado encostar a máquina de lavar a roupa junto à porta para servir de obstáculo pesado. Mas o avô afiançou-lhe que não havia necessidade dizendo-lhe que por aquela porta não passaria ninguém. A avó confidenciou-me que à socapa obstruiu a dita entrada com uma pá metálica e vários baldes, coisas que fizessem barulho. Na casa de banho onde o vidro tinha sido quebrado a avó colocou estrategicamente junto à janela, umas panelas de cozinha com as respectivas tampas que dariam sinal de alarme caso alguém entrasse. Seguidamente a porta da casa de banho foi fechada à chave. Reza a história que para além de uma noite sem dormir por parte dos avós não houve nenhum sobressalto a registar. A minha mãe e o tio acomodados num quarto tiveram uma noite de sono bastante tranquila sempre vigiados pela avó que de vez em quando se levantava da cama para verificar se tudo estava bem com os seus filhotes. (continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário