domingo, 18 de agosto de 2013

AS FÉRIAS – parte II: Incrédudos!

Reza a história que um dia quando chegaram à casa de férias, os avós, a mãe e o tio foram surpreendidos com um cenário bastante desagradável. Tinham realizado a viagem de automóvel de Lisboa ao Algarve sempre na expectativa de passarem uns dias tranquilos, totalmente, dedicadas ao sol e à praia e sem qualquer tipo de preocupações. Sabiam de antemão quando chegassem ao destino algumas tarefas domésticas teriam de se realizar, afinal havia três anos que não passavam férias na casa de praia. A casa é propriedade da irmã da minha avó. A ligação entre as duas irmãs é muito forte, poder-se-ia descrever como sendo umbilical. A diferença de idades entre as duas é pequena, três anos e meio. No entanto a avó sempre assumiu uma atitude protectora em relação à irmã mais nova de tal maneira que a tia Isabel algumas vezes sentiu-se incomodada com tanta dose de afecto  Na realidade a avó herdou este apego às pessoas da sua mãe, a minha bisavó Maria. Tanto a avó, como a Bi, como, carinhosamente, designo a avó Maria para a distinguir da filha só sabem gostar muito, o meio-termo, a tal posição intermediária entre dois excessos, não condiz nada com as suas formas de viver. Admiro o carisma destas três mulheres, todas elas diferentes entre si, mas todas detentoras de fortíssimas personalidades. Agora, imaginem, o que sentiram os avós ao abrirem a porta da entrada e ao entrarem na cozinha, se depararem para além do lixo que habitualmente passa pela frecha da porta principal e se acumula no corredor, com vários copos sujos em cima da mesa, garrafas de álcool meias vazias, cadeiras fora do lugar e gavetas dos móveis abertas. Os avós ficaram incrédulos! De divisão para divisão o cenário de intromissão repetia-se. Na sala de estar uma pequena poltrona de pano que durante anos serviu de cama estava aberta parecendo aguardar a chegada de alguém que não fora convidado, para dormir. Uma quantidade considerável de velas apagadas estavam espalhadas pelo chão, com certeza que teriam iluminado em alguma(s) noite(s) o(s) visitante(s) indesejável (eis). Garrafas vazias de um popular refrigerante, papéis e mais papéis do outrora rolo de cozinha, os invólucros dos chocolates que teriam servido de refeição quiçá durante a noite/dia completavam a mixórdia de lixo deixado no chão da divisão. Até uma das vassouras foi desmembrada! O cabo de madeira da vassoura foi separado do feixe de pelos  artificiais, depois foi lentamente cortado com recurso às facas do talher de jantar, para posteriormente ser transformado numa arma arcaica de defesa ou de ataque pessoal. Aparentemente o(s) penetra(s) não gostavam de dormir em camas, num dos quartos a velha cama branca de ferro forjado parecia intacta, a colcha estava esticada sem sinais de acomodação. Noutro os móveis foram remexidos, as roupas de cama, os lençóis e cobertores, bem como as toalhas de banho foram espalhados pela divisão. Foi por uma pequena janela da casa de banho que entraram na casa, partindo o vidro. A intromissão deu-se pelas traseiras da casa onde existe um pequeno pátio que alberga um fogareiro de pé alto onde o avô Manel costuma dar assas à imaginação com as suas delícias gastronómicas. Embora o dito pátio esteja ladeado por uma casa e por um muro alto, não foi obstáculo suficiente para conter as intenções dos malfeitores. A minha mãe, na altura uma adolescente, pegou no meu tio ainda pequeno e refugiaram-se ambos no automóvel, não quiseram por medo ou por desolação continuar a assistir ao penoso espectáculo. (continua)

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