Normalmente
nos lugares por onde eu passo, estabeleço afinidades com pessoas que por lá
habitam ou trabalham. Há pessoas e lugares que ao longo da vida perduram na
memória como uma espécie de pontos de encontro onde podemos voltar, sabendo antecipadamente
quando chegarmos seremos sempre bem recebidos. Tive este pensamento esta manhã
quando saia de um café junto ao meu local de trabalho. Aliás, quando me dirigi
ao estabelecimento a pretexto de beber um café, tinha como finalidade principal
desejar umas boas férias ao seu proprietário que em cada início de Agosto
encerra as portas e ruma até Caldas da Rainha. O Sr.
Leão é um daqueles comerciantes “à moda antiga” que recebe cada um dos seus clientes
de modo tão gentil que cada um de nós se sente em casa. A sua simpatia é totalmente
genuína. Por mero acaso ou talvez não o Sr. Leão é simpatizante do meu clube de
futebol. Não sou uma frequentadora diária do seu estabelecimento tenho por
hábito visitá-lo quase sempre às segundas-feiras de modo a comentarmos os dois o
desempenho futebolístico do último fim-de-semana. Já dei conta que algumas
vezes outros clientes e adeptos de outros clubes sorriem para a nossa conversa,
mas sem nunca se intrometerem mediante o que escutam. Eu e o Sr. Leão estamos
quase sempre de acordo com as análises que e cada um nós “treinadores de
bancada” realiza. O futebol sendo um desporto de massas
e, consequentemente ao concentrar atenção pode em algumas ocasiões ser motivo
de discórdias entre pessoas. Não estou nesse plano sou apologista da
diversidade de opiniões. À saída despeço-me do Sr. Leão e dos restantes
clientes desejando mutuamente uma boa semana. Espontaneamente dou por mim a viajar
para muitos quilómetros de Lisboa, bem ao sul de Portugal, para uma aldeia a
poucos quilómetros de Lagos. Em Barão existe um café cujo proprietário ano após
ano recebeu os visitantes de uma forma tão calorosa que em cada chegada ou
despedida ninguém saia do lugar sem dele se despedir. Falo com o verbo no
passado porque o Sr. Barnabé entretanto faleceu. Passado alguns anos de o
tratar com carinho por Sr. Barnabé fiquei a saber que este nem era o seu nome,
mas por todos era assim conhecido. Barnabé era o nome do seu progenitor ao qual
ele simpaticamente foi “re-batizado” pelos habitantes locais e adotou após a morte
do pai. Foi com imensa tristeza que recebi a notícia da sua partida. Um homem
trabalhador que economizava durante a época alta de verão o sustento que
escasseava durante a estação de Inverno. O seu dia de trabalho começava cedo na
lota onde carregava a sua carrinha com peixe para depois distribuir pelas aldeias
vizinhas. Em todas as férias de verão pelas 7:30 batia-nos à porta para nos
entregar um saco cheio de peixe muito fresquinho que havíamos de grelhar depois
de uma manhã bem passada no areal e nas águas da Meia-praia, em Lagos. Quando
lhe perguntávamos quando lhe devíamos pelo peixe, o Sr Bernabé respondia com um
sorriso na voz: - Logo acertamos as contas! E, lá se ia embora, buzinando,
fazendo-se anunciar nas localidades por onde passava.
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