sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Afinidades

Normalmente nos lugares por onde eu passo, estabeleço afinidades com pessoas que por lá habitam ou trabalham. Há pessoas e lugares que ao longo da vida perduram na memória como uma espécie de pontos de encontro onde podemos voltar, sabendo antecipadamente quando chegarmos seremos sempre bem recebidos. Tive este pensamento esta manhã quando saia de um café junto ao meu local de trabalho. Aliás, quando me dirigi ao estabelecimento a pretexto de beber um café, tinha como finalidade principal desejar umas boas férias ao seu proprietário que em cada início de Agosto encerra as portas e ruma até Caldas da Rainha. O Sr. Leão é um daqueles comerciantes “à moda antiga” que recebe cada um dos seus clientes de modo tão gentil que cada um de nós se sente em casa. A sua simpatia é totalmente genuína. Por mero acaso ou talvez não o Sr. Leão é simpatizante do meu clube de futebol. Não sou uma frequentadora diária do seu estabelecimento tenho por hábito visitá-lo quase sempre às segundas-feiras de modo a comentarmos os dois o desempenho futebolístico do último fim-de-semana. Já dei conta que algumas vezes outros clientes e adeptos de outros clubes sorriem para a nossa conversa, mas sem nunca se intrometerem mediante o que escutam. Eu e o Sr. Leão estamos quase sempre de acordo com as análises que e cada um nós “treinadores de bancada” realiza. O futebol sendo um desporto de massas e, consequentemente ao concentrar atenção pode em algumas ocasiões ser motivo de discórdias entre pessoas. Não estou nesse plano sou apologista da diversidade de opiniões. À saída despeço-me do Sr. Leão e dos restantes clientes desejando mutuamente uma boa semana. Espontaneamente dou por mim a viajar para muitos quilómetros de Lisboa, bem ao sul de Portugal, para uma aldeia a poucos quilómetros de Lagos. Em Barão existe um café cujo proprietário ano após ano recebeu os visitantes de uma forma tão calorosa que em cada chegada ou despedida ninguém saia do lugar sem dele se despedir. Falo com o verbo no passado porque o Sr. Barnabé entretanto faleceu. Passado alguns anos de o tratar com carinho por Sr. Barnabé fiquei a saber que este nem era o seu nome, mas por todos era assim conhecido. Barnabé era o nome do seu progenitor ao qual ele simpaticamente foi “re-batizado” pelos habitantes locais e adotou após a morte do pai. Foi com imensa tristeza que recebi a notícia da sua partida. Um homem trabalhador que economizava durante a época alta de verão o sustento que escasseava durante a estação de Inverno. O seu dia de trabalho começava cedo na lota onde carregava a sua carrinha com peixe para depois distribuir pelas aldeias vizinhas. Em todas as férias de verão pelas 7:30 batia-nos à porta para nos entregar um saco cheio de peixe muito fresquinho que havíamos de grelhar depois de uma manhã bem passada no areal e nas águas da Meia-praia, em Lagos. Quando lhe perguntávamos quando lhe devíamos pelo peixe, o Sr Bernabé respondia com um sorriso na voz: - Logo acertamos as contas! E, lá se ia embora, buzinando, fazendo-se anunciar nas localidades por onde passava.  


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