domingo, 18 de agosto de 2013

AS FÉRIAS – parte III: Imperioso superar os contratempos

Ao  defrontarem-se com uma realidade tão diferente daquela que esperavam encontrar na chegada depois da viagem de trezentos quilómetros poder-se-á afirmar com convicção que foram muitas as emoções que se apoderaram da mente. A minha avó mais emotiva, talvez pelo espanto, nem teve lágrimas para expressar a dor que sentiu. Num impulso pediu ao avô para regressar de imediato a casa. Afinal era por ela que todos  ali estavam para passar uns dias de férias. Foi pela mão da avó que o avô conheceu a terra algarvia ainda no tempo em que ambos ainda eram namorados. Depois de casados os filhos, primeiro a minha mãe e, depois o tio continuaram a viajar para lá sempre que os avós podiam. Aquela casa era uma espécie de fiel depositária de tantas histórias, onde várias famílias e vivências se cruzaram. A pequena casa estava situada numa zona privilegiada do Barlavento algarvio, perto da cidade e de belíssimas praias e ao mesmo tempo de uma considerável extensão de terreno plantado com árvores. Mediante tão horrendo cenário em silêncio a avó perguntava-se o que fazer? Não conseguiu encontrar uma sugestão, um caminho que lhe permitisse um pensamento que acalmasse a desolação interior. Foi o avô Manel que resolveu o assunto. Tomou a si a decisão de ficarem todos na casa e continuarem com o plano de férias inicialmente traçado. Segundo o avô todos colocariam mãos à obra e na manhã seguinte resolveriam todos os assuntos relacionados com a casa. Acho que esta tomada de decisão surpreendeu pela positiva a minha avó mais habituada a ser ela a  mais pragmática perante as adversidades. Mas desta vez não lhe coube o comando do leme, foi o avô que levou o barco em frente. Arregaçaram as mangas e decidiram as tarefas entre os dois. Tive conhecimento que a mãe e o tio permaneceram dentro do automóvel por largo tempo, entretidos numa qualquer brincadeira que inventaram no momento e que também teve a função de os tranquilizar. Entretanto o avô e a avó quiseram abrir a porta das traseiras da casa para acederem ao tal pátio que há pouco vos falei e foi nesse momento que deram conta que para além do uso indevido da habitação os malfeitores também se tinham apoderado da chave que abria essa porta. Era costume a tia Isabel deixar as chaves da porta das traseiras da casa num chaveiro na cozinha, perto do fogão, procedimento que facilitou a vida aos penetras dentro da habitação. Que situação bizarra, para além de uma janela arrombada e sem vidro, tinham agora uma porta nas traseiras da casa que podia ser aberta por alguém que não conheciam! O adiantado da hora já não permitia a substituição da fechadura. Este era mais um assunto com o qual teriam que se preocupar para lá poderem pernoitar. O avô informou a avó que teria de se apressar se quisessem comprar mantimentos para confortar as barrigas que começavam a dar sinal da falta de alimentos. Por esta altura a avó começava a tomar as rédeas da limpeza da habitação. Desejava para si própria conseguir levar a cabo a tarefa hercúlea de ter a casa minimamente aceitável quando o avô e os seus filhos regressassem das compras. Muniu-se dos detergentes que a tia Isabel deixava no armário das últimas férias e começou a limpeza das divisões. Protegeu as mãos com luvas e dirigiu-se à cozinha e colocou num grande saco plástico de cor preta os copos, as garrafas de vidro e plástico, todas as embalagens vazias, todo o lixo que encontrou. Seguiram-se a sala de estar, os quartos e por fim a casa de banho. Nesta última divisão foi aquela onde existiram as maiores dificuldades em apagar os vestígios dos indesejáveis visitantes. A utilização da casa de banho sem o recurso à água colocou o espaço num estado quase indescritível. Lixívia e mais lixívia havia que se utilizar todo o poder desinfectante e terminar de vez com as bactérias que por lá habitassem. O avô quando saiu para as compras interiormente acalentou a esperança que no regresso pudesse testemunhar o milagre da limpeza realizado pela avó. Convínhamos que o cenário  que  os  avós, a mãe e o tio encontraram não é  bem o cenário idílico  que se deseja para um bom início de férias. (continua) 

Sem comentários:

Enviar um comentário